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Fumaça que encobre Manaus e deixa ambiente insalubre vem de queimadas no interior

Os municípios de Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã têm liderado o ranking dos municípios que mais registraram queimadas em 2023

Os municípios da Região Metropolitana de Manaus (RMM) também têm registrado inúmeros focos de queimadas nos últimos dias - Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real

A temperatura da capital amazonense, conhecida por ter um ambiente quente e abafado, vem aumentando gradativamente. Em maio, a cidade registrou o primeiro dia mais quente do ano (34,5°C). No dia 20 de agosto, a marca foi superada, quando os termômetros chegaram a 37,4ºC, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Além do aumento da temperatura em níveis recordes, nos últimos dias, a cidade também vem apresentando nuvens de fumaça nas primeiras horas do dia. A reportagem é do Amazonas 1.

O meteorologista e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Rodrigo Souza, atribui a formação recorrente de nuvens de fumaça ao crescimento dos números de queimadas na região do interior do estado, comprometendo a qualidade do ar em Manaus.

“O número de focos de queimadas tem crescido com a estação seca da nossa região e já é possível perceber que a qualidade do ar em Manaus vai ficando comprometida. Se a população não evitar as queimadas na região, é possível que a qualidade do ar fique ainda mais comprometida nas próximas semanas ou meses”, ressalta.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de focos de queimadas no Amazonas está próximo de alcançar 7 mil focos e, até o mês de agosto, só o bioma Amazônia já representa 47% dos focos de queimadas no Brasil em 2023.

Ainda segundo o especialista, os municípios de Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã têm liderado o ranking dos municípios que mais registraram queimadas em 2023. No entanto, os municípios da Região Metropolitana de Manaus (RMM) também têm registrado inúmeros focos de queimadas nos últimos dias e, consequentemente, a fumaça alcança a capital.

Segundo dados da Plataforma Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental(Selva), do Projeto EducAir, da UEA; a concentração de Material Particulado fino – MP2.5 na atmosfera da cidade de Manaus estava duas vezes maior do que o recomendado pela organização Mundial da Saúde, na manhã desta segunda-feira (28).

O levantamento mostra que a capital amanheceu encoberta de fumaça em decorrência de focos de queimadas que estão ocorrendo também nos munícios de Rio Preto da Eva, Autazes e Nova Olinda do Norte.

O MP2.5 é um material particulado, fino, que está presente em alguns aerossóis. Esse tipo de partícula possui tamanho microscópico, e, por isso, quando liberado no ar, pode entrar facilmente nas vias respiratórias causando problemas como asma, pneumonia e câncer de pulmão. Além disso, o MP2.5, emitido pela queima de combustíveis fósseis, e de matéria orgânica, pode contribuir para o aquecimento global e para as chuvas ácidas.

El Niño

Para o meteorologista Leonardo Vergasta, o resultado das fortes ondas de calor na região amazônica recebe a influência do fenômeno El Niño. Segundo ele, o fenômeno é um padrão climático que ocorre periodicamente no Oceano Pacífico, resultando no aquecimento anormal das águas superficiais do oceano. Esse efeito tem impactos significativos em todo o mundo, incluindo na região amazônica. Ele diz que quando ocorre um evento El Niño, ele pode influenciar as condições climáticas na Amazônia de várias maneiras:

  1. Durante o El Niño, a região amazônica pode experimentar secas mais intensas do que o normal. Isso ocorre porque as mudanças nos padrões de circulação atmosférica resultantes do El Niño podem reduzir a quantidade de chuvas na região;
  2. Com a diminuição da quantidade de chuvas durante o El Niño, a vegetação da Amazônia fica mais seca e suscetível a incêndios. A combinação de condições secas e a atividade humana, como a agricultura e o desmatamento, podem levar a um aumento nas queimadas;
  3. Durante os eventos El Niño, a falta de chuvas pode dificultar a recuperação das áreas desmatadas, tornando-as mais vulneráveis a incêndios. Isso pode resultar em um ciclo de desmatamento e queimadas, contribuindo para a perda de vegetação e biodiversidade;
  4. O aumento das queimadas na Amazônia durante o El Niño pode liberar abundantes quantidades de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Além disso, a destruição da vegetação e a liberação de partículas finas na atmosfera podem ter impactos negativos na qualidade do ar e no clima regional.

O especialista ainda explica que a frequente fumaça que encobre a cidade é causada por atividades humanas, como desmatamento ilegal, expansão agrícola e pecuária. Ela é altamente prejudicial para a população.

“Essa fumaça acaba prejudicando a saúde da população manauara, principalmente de crianças e idosos, podendo trazer problemas de doenças respiratórias e cardiovasculares a essas pessoas mais vulneráveis”, afirma o especialista.

Diante disso, o período seco, aliado ao fenômeno El Niño, intensifica o ciclo de queimadas na Amazônia. A combinação de condições secas provenientes do El Niño, juntamente às atividades humanas que criam combustível (vegetação seca) para os incêndios, resulta em um aumento substancial nas queimadas durante essa época. Além disso, os incêndios podem desencadear consequências ambientais, climáticas e de saúde, incluindo a liberação de CO2 na atmosfera, o comprometimento da qualidade do ar e a ameaça à biodiversidade.

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