O diretor comercial da Amazonas Energia, Claudio Manuel Rivera Moya, é um homem experiente. É graduado em engenharia elétrica pela Universidade de Santiago do Chile e mestre em energias renováveis e sustentabilidade energética pela UNIBA. Já ocupou posições executivas em negócios, principalmente, em Energia, no Brasil e em países da América Latina, incluindo: Peru, Chile, Colômbia, Argentina.
Em posição estratégica na concessionária, afiram categoricamente que os os novos medidores que começaram a ser instalados em Manaus são seguros e já estão presentes em todos os continentes do mundo.
Em entrevista ao Blog do Mário Adolfo, Claudio explica como vencer a desconfiança da população e do desafio de tentar acabar com os 'gatos' na capital do Amazonas.
CONFIRA A ENTREVISTA
Blog do Mário Adolfo: Desde que foi privatizada, quanto a Amazonas Energia já investiu no Estado?
Claudio Manuel Rivera Moya: Desde o início das atividades da concessionária, após a privatização, a Amazonas Energia já investiu o valor aproximado de R$ 1,4 bilhão em melhorias de rede, expansão em todo o Estado, novas tecnologias e melhoria em atendimento. Além disso, a empresa também investiu o valor aproximado de R$ 600 milhões foi investido no interior do Estado, no âmbito dos programas federais “Luz Para Todos” e “Mais Luz para a Amazônia”.
BMA: Quantos clientes a Amaxonas Energia possui atualmente?
CMRM: Atualmente, a empresa possui mais de 970 mil clientes, em que 86,3% são clientes residenciais, 8,1% são clientes comerciais, 4,1% rurais, 0,2% da classe industrial e 0,9% pertencem ao Poder Público.
BMA: Manaus é conhecida por ser uma cidade com muitos desvios de energia. Como vocês medem este problema? Quanto é desvio?
CMRM: Efetivamente Manaus é a cidade com no furto de energia mais elevado no Brasil, isto já foi medido e comprovado pela ANEEL, que atestou que 44% da energia injetada no sistema não está sendo faturada. A nossa empresa compra energia para distribuir aos clientes e a diferença entre essa compra e o faturamento corresponde à perda global da empresa, na qual a maior parte é furto de energia. Outra forma de medir as perdas se dá pelos monitoramentos por alimentadores e por transformadores, de forma a separar a perda técnica da perda não técnica (desvios e fraudes).
BMA: Qual o prejuízo anual com os gatos?
CMRM: Temos dois prejuízos com a prática dos gatos no Amazonas. O primeiro é o prejuízo cujo valor está reconhecido na tarifa de energia elétrica e, portanto, acaba sendo custeado por todos os clientes. Neste viés, estima-se que o prejuízo anual é de, aproximadamente, R$400 milhões. Se pensarmos em valores, o consumidor paga, atualmente, o valor aproximado de R$17,00 a cada R$100,00 faturados em sua conta.
O segundo prejuízo incide em cima das perdas que não são reconhecidas na tarifa e, portanto, são custeadas pela própria concessionária de energia elétrica. Neste caso, o prejuízo está na ordem aproximada de R$500 milhões ao ano. Este valor poderia estar sendo investido na melhoria do sistema. Pensar nesta hipótese é como um cliente entrar em um supermercado, comprar 1kg de carne e sair com apenas metade do peso pago. A concessionária paga pela energia que é injetada no sistema, mas não está recebendo pelo valor que paga. A conta não fecha.
BMA: Como começou a desinformação sobre os atuais medidores?
CMRM: Pensando friamente, a desinformação começou devido às reclamações de uma parte minoritária de clientes que estavam furtando energia e principalmente de consumidores clandestinos (que não são clientes da empresa), os quais perceberam que o novo sistema evitaria o consumo ilegal e fraudulento de energia. Desafortunadamente, os representantes da população, interpretaram erroneamente a origem das reclamações e, em uma tentativa de proteger os cidadãos, acabaram protegendo um grupo específico de consumidores ilegais.
A questão toda está no foco da instalação do SMC: parece que estamos falando apenas de instalação de medidores, mas não se trata apenas disso. O SMC é um sistema completo: medidor, display de leitura, rede, transformadores, cruzetas, postes, fios. Todos estes novos equipamentos são instalados juntos com os medidores. O sistema de medição inteligente em conjunto com a modernização da rede, tem por objetivo principal modernizar o serviço e atingir os parâmetros internacionais de automação das operações e proporcionar aos clientes serviços similares à telefonia celular.
Estas ações todas culminam em diversos benefícios, que não estão claros ainda para a população, mas que estamos trabalhando diariamente para evidenciar. Além disso, muito se fala sobre o SMC como se o Amazonas fosse um experimento, mas não é. Este modelo de medição surgiu no início da década de 1970 e na década de 1990 foram desenvolvidos para apresentar um diferencial econômico para os potenciais clientes. As primeiras versões deste sistema surgiram em 2005, aplicadas no Estado do Rio de Janeiro, e a tendência é de constante aprimoramento e melhoria.
O sistema inteligente de medição está presente no Brasil, em Estados como Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Santa Catarina, Piauí, etc. Além disso, a prática é recorrente no mundo, pois a medição eletrônica tem mais de 1 bilhão de pontos distribuídos no mundo, em quase todos os continentes, com exceção da África. Ou seja, o SMC traz o Amazonas para o mapa como empresa que investe em uma rede elétrica inteligente, que poderá executar tarefas de aquisição de dados, medição e transmissão de energia elétrica original, e é a base para integração, análise e otimização de informações.
BMA: São de fato seguros e confiáveis?
CMRM: Em primeiro lugar, a população deve entender que a energia elétrica é um produto que somente pode ser manipulado por pessoas capacitadas, pois é altamente perigoso. Em segundo, a legislação assegura o acesso visual à leitura do contador e em momento nenhum autoriza à população a intervir no equipamento, o que vem sendo cumprido pela concessionária. Nesses dois aspectos, tanto as redes quanto os novos medidores são instalados em uma posição que assegura que nem a população nem os funcionários de outros serviços (telefonia, Internet, TV a Cabo etc.) entrarão em contato físico com eles.
Até o presente momento, não se identificou qualquer insegurança nos equipamentos utilizados no Amazonas, que também são utilizados no mundo. Até mesmo o IPEM testou o equipamento e comprovou a exatidão do registro de energia. O Instituto instalou uma medição paralela em 57 residências e monitorou a medição por 21 dias, não havendo discrepância entre os valores medidos pelo SMC e a medição paralela do IPEM.
Quando o IPEM prestou depoimentos na CPI e falou sobre medidores auferindo valores a maior, ela se referiu a medidores convencionais e depois foi convidada a testar os medidores SMC. O resultado do IPEM atesta que realmente os novos medidores são a tecnologia mais confiável.
BMA: Quais os principais projetos de futuro para o Amazonas?
CMRM: O SMC abrirá portas para novas formas de controle e de atendimento, remoto e rápido, como os grandes prestadores de serviço estão fazendo no Brasil e no mundo. Quantas pessoas hoje usam seus aplicativos de celular para controlar o seu consumo diário de internet? O SMC pode permitir este nível de controle na rede.
Além disso, é o primeiro passo para uma era de modernização da cidade. Conseguiria imaginar uma cidade preparada para uma interface inteligente e automatizada? Num mundo em que tempo é dinheiro, quanto mais rápido eu puder atender aos anseios do cliente, é melhor. O SMC é rapidez e é um monitoramento preciso.
BMA: Estamos entrando no verão amazônico e com isso o consumo aumenta. Quanto vocês esperam que aumente?
CMRM: Por experiência própria, o consumo deve, no mínimo, dobrar. Esta é uma tendência natural, pois as famílias tendem a usar equipamentos que não usavam antes ou aumentam a velocidade do ar-condicionado, aumentando o consumo. Este movimento tende a sobrecarregar a rede e, por isso, vamos iniciar uma campanha para instruir os clientes sobre o uso consciente da energia elétrica durante o verão.
BMA: Existe algum risco de apagão?
CMRM: O uso não consciente de energia e as práticas criminosas sobrecarregam a rede e causam queima de milhares de transformadores e outros equipamentos. O que pode gerar um transtorno para os clientes da localidade. Principalmente nas localidades em que há muitas ligações clandestinas ou muitos desvios ou fraudes, a variação das tensões e a sobrecarga afeta as residências vizinhas. A forma como podemos combater, atualmente, são duas: melhorando o sistema e combatendo as práticas criminosas.
BMA: Qual mensagem a Amazonas Energia deixa aos consumidores para os próximos anos?
CMRM: Quando entramos nessa concessão, entendemos que os bens e o negócio que está no Amazonas não nos pertence, mas sim pertence à União. Como concessionária, nossa obrigação é zelar pelo serviço e explorar a atividade da forma mais correta e eficiente. Estamos tentando fazer isto da melhor forma e sabemos que será difícil, mas contamos que nosso trabalho trará diversos frutos para a população.
Se pudéssemos pedir algo à população, seria somente uma chance. Uma chance de conseguir desenvolver um bom trabalho, pois estamos com dificuldades até mesmo nisso. Sabemos que temos muito a melhorar, é claro, pois entramos numa concessão que estava falida e precisamos reerguer a empresa, mas também temos muita garra, muita vontade de melhorar e de fazer da Amazonas Energia a melhor do Brasil, de colocar nosso Estado num ranking de competitividade com os demais e de proporcionar sim uma tarifa mais justa para os nossos clientes.
Nossa maior mensagem à população é: será difícil agora, mas precisamos acabar com as práticas criminosas. Se olharmos somente para o nosso, o aqui e o agora, jamais conseguiremos melhorar a situação. E convidamos todo e qualquer cliente que gostaria de conhecer melhor o sistema a entrar em contato com nossas equipes, pois mostraremos todas as informações a quem tiver vontade de conhecer melhor o nosso trabalho.
