Ir para o conteúdo

Artigo - Réquiem para nossos netos, ou filhos?

O governo dos EUA estima que 98% dos norte-americanos o têm no sangue, e que 200 milhões de seus habitantes bebem água com a presença desses também chamados “químicos eternos”, pois não se degradam.

Por Eduardo Fernandez

Sabemos que nada se cria, nada se perde, tudo se transforma! Não obstante, muitos querem que acreditemos que a gasolina queimada nos veículos desaparece. Confirmando Lavoisier mais uma vez, o acúmulo de gases de efeito estufa mostra que não: ela se transforma em aquecimento global e em quantidade crescente de desastres nada naturais, como enchentes, secas, incêndios e outros. E os subsídios à extração de mais combustíveis fósseis continuam, assim como continuou, por muitos anos, a leniência com o cigarro.

Muitos creem que o desenvolvimento tecnológico virá nos salvar. Foi ele que permitiu a queima de combustíveis, e também itens de conforto como roupas impermeáveis, tapetes e toalhas de mesa resistentes a manchas e ao calor, fio dental, panela antiaderente, etc.! Viva! Viva! Só que, para adquirir estas características esses produtos recebem a adição de PFAS, nome genérico para os per e polifluoroalquil, conjunto de cerca de 12.000 produtos químicos, tóxicos.

Esses PFAS penetram nos nossos corpos pela respiração, pele e alimentos. O governo dos EUA estima que 98% dos norte-americanos o têm no sangue, e que 200 milhões de seus habitantes bebem água com a presença desses também chamados “químicos eternos”, pois não se degradam.

Eles causam câncer, aumento do colesterol, problemas cognitivos e reprodutivos, aumento de peso, danos ao fígado e defeitos congênitos, entre outros.

Estudo recente, citado pelo The Guardian (22/09), revisou 40 outros, realizados nos últimos cinco anos; em conjunto, estes analisaram o sangue de 30.000 cordões umbilicais e encontraram a presença dos PFAS em nada menos que 100% deles. Como não se decompõem, acumulam-se no ambiente, em nos nossos corpos e, com mais intensidade, nos dos fetos. Nossos filhos e netos.’

Assim como as empresas produtoras de cigarro, automóveis e outros, além das extratoras de combustíveis fósseis ou empreiteiras de obras públicas subornaram e subornam autoridades, escamoteiam os riscos e superestimam os benefícios trazidos pelos produtos que lhes geram lucros, também firmas de outros setores fazem o mesmo.

A gigante francesa Saint Gobain poluiu a água que bebem muitos no estado norte-americano de New Hampshire, onde é particularmente elevada a incidência de câncer. Após negar, a empresa acabou por reconhecer que mentiu sobre a quantidade de PFAS usada, assim como a Volkswagen sobre o nível de poluição de seus veículos.

No Brasil, vivemos na ignorância, pois carecemos de estudos que nos informem sobre a quantidade desses produtos em nossas vidas. Por outro lado, muitas “otoridades”, economistas, empresários e jornalistas ficam felizes quando sabem do aumento da produção desses produtos aqui, pois isso eleva o PIB e os permite pensar que comemoram o “progresso”, quando na realidade celebram …. a degradação humana e ambiental!!!

Mantidas essas práticas hoje generalizadas, não celebraremos a vida dos netos, mas desde já podemos encomendar-lhes réquiens.

Eduardo Fernandez Silva. Mestre em Economia. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

Acesse o artigo publicado no Metrópoles:

https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/artigos/requiem-para-nossos-netos-ou-filhos-por-eduardo-fernandez-silva

Publicidade ATEM
Publicidade TCE
Publicidade CIESA
Publicidade BEMOL
Publicidade UEA

Mais Recentes