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A energia transformadora que vem do lixo

Restos de comida já são transformados em energia no Ceará

Usina que uso lixo para gerar energia no Ceará - Fotos: Marquise/Divulgação

A casca de banana que você joga no lixo poderia virar adubo ou iluminar a cozinha da sua casa – e, de quebra, contribuir para a diminuição na emissão de gases de efeito estufa. Pois é: quando se fala de resíduos sólidos, é preciso levar em conta que o desperdício e a má gestão dos aterros inadequados geram um impacto negativo na sociedade, na economia e no meio ambiente. A tecnologia já nos permite transformar, por exemplo, restos de comida em energia, como acontece no Ceará, em que 20% do abastecimento da companhia local de gás são gerados na primeira usina de biogás do Norte e Nordeste.

Mas como funciona? Depositados em aterros sanitários, os resíduos sólidos geram, naturalmente, metano e gás carbônico, dois gases de efeito estufa que, sem tratamento, são lançados na atmosfera e contribuem para o aquecimento global. No Ceará, por exemplo, o aterro sanitário de Caucaia recebe, diariamente, cerca de 5.000 toneladas deste material por dia. Por meio de um sistema de drenos, o biogás é captado, tratado e processado. Resultado: a usina de biogás produz 90 mil m³ de biometano diariamente. Na prática, o sistema evita a emissão, todos os anos, de aproximadamente 610 mil toneladas de gases de efeito estufa.

Hoje, no Brasil, todos os dias, as empresas de limpeza urbana recolhem 225 mil toneladas de resíduos residenciais. Deste total, metade é composto por restos de comida. Ao analisar o lixo por classe social, observa-se que, entre as classes menos favorecidas, que representam 60% da população do país, diariamente vão para o lixo 500 gramas de restos de alimentos per capita. Na classe média, esse número sobe para algo entre 1,2 e 1,3 quilos. Entre os mais ricos, o desperdício chega a dois quilos por dia.

Os desafios são muitos. Dos 5.570 municípios do país, apenas 320 têm mais de cem mil habitantes, ou seja, podem adotar um sistema privado de gestão de resíduos. Nos outros 95%, a tarefa acaba nas mãos das prefeituras, que enfrentam muito mais dificuldade de conseguir investidores para seus projetos de transformação e reaproveitamento de resíduos.

É preciso ainda lembrar que, por não termos a separação dos resíduos em nossas residências, 70% dos detritos transportados em caminhões ficam inutilizáveis, ou seja, não podem ser reaproveitados para compostagem e outros fins, já que os materiais se contaminam devido à não separação na origem. O resultado é o que vemos em dezenas de cidades pelo país: os aterros controlados e lixões, que são verdadeiros retratos do desperdício e da má gestão do lixo no país.

Este quadro tem tudo para mudar. Desde a aprovação da Lei 12.305, em 2010, que implementou a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, o modelo de limpeza urbana, até então exclusivamente calcado em coleta e despejo em aterros sanitários, vem sofrendo fortes e rápidas alterações. O mercado já descarta a ideia de "lixo" para pensar em material aproveitável. Em vez de despejo, fala-se em transformação. E se a indústria dos recicláveis, mal ou bem, conseguiu se firmar, é hora de avançar no sentido de fazer do desperdício uma fonte de energia. E é esta a proposta do novo Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos de Manaus.

Transformar o resíduo em energia e outros produtos de valor não é ficção científica. É uma prática saudável, sustentável e que precisa ganhar cada vez mais espaço na sociedade. Um bom negócio para todos.

Hugo Nery é diretor presidente de Marquise Ambiental.
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