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Se minha memória não falha, o ano era 2001, o bar do momento em Manaus era o Baba-Gula, na Jacira Reis. Eu, então um foca com menos de um ano de jornalismo e ainda estudante da UFAM, encontro o jornalista mais experiente e experimentado no local. Ao me ver bebendo sozinho, hábito que estranhamente mantenho até hoje, ele me chama para a mesa onde ele está sentado com um amigo e duas amigas. Depois dos cumprimentos de praxe e de me perceber extremamente desconfiado (hábito que, estranhamente, mantenho até hoje), ele diz: “fica tranquilo. Nunca somos aquilo o que dizem da gente. Relaxa e vamos curtir a noite”. Naquele momento, não entendi direito o que ele quis dizer.

Depois daquilo, ao longo de 16 anos nos tornamos colega de redação, setoristas em jornais concorrentes, parceiros em corredores das casas legislativas e coletivas do executivo, trabalhamos em campanhas eleitorais acirradas, mas sempre mantivemos respeito, parceria e companheirismo.

Paulo era daqueles caras que insistiam em ser seu amigo, mesmo distante, mesmo você não se esforçando tanto quanto ele. Sempre disposto a dar uma palavra amiga e pedir ajuda, com o mesmo entusiasmo. Tratando a todos com o seu tradicional “maninho” – imitando sotaque parintinense.

Só tinha vergonha de uma coisa: usar oculos. Lutava insistentemente contra a idade do corpo. A mente, essa era sempre juvenil. Engraçado a vergonha que ele tinha de usar óculos para escrever no computador. Parece que ele achava que aquilo, de certa forma, o deixava em desvantagem contra as ávidas novas gerações de repórteres que invadiam as redações ano após ano. Bobagem. Experiência, conhecimento da história política, capacidade de conexão dos fatos, não se compra na livraria.

Ele se foi essa manhã, depois de uma dura e árdua luta em São Paulo. Falei com ele por telefone apenas três vezes nesse semestre. Foi pouco. Agora eu sei. Agora também sei o que ele quis dizer com aquela frase. “Nunca somos aquilo o que dizem da gente”.

Voa em paz, Gavião.

*Na foto, Paulo e a equipe de política do Jornal Emtempo, em 2006.

Por Márcio Noronha, jornalista

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