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Um pedaço da história do Brasil esta guardado a sete chaves na casa de dona Nathália Zila Papi Brasil, no condomínio Green Wood: a lendária capa do Diário Popular, jornal fundado em 1884, que entrou para a história ao dar o "furo" nacional da Lei Áurea, já na edição vespertina de 14 de maio de 1888 - considerado uma façanha jornalística para a época. A grande manchete foi assinada pelo jornalista  Aristides Lobo, "articulista de fundo", no jargão jornalístico usado naquele tempo, quando a força do jornal impresso era avassaladora.

Dona Nathália Brasil é uma simpática senhora de 91 anos, que nasceu em Fortaleza (CE), morou em Brasília, São Paulo, Estados Unidos e fixou residência em Manaus (AM). Durante toda a sua vida pintou natureza morta em telas, cerâmica e tecido. Escreve poesia, declama seus versos que guarda na cabeça e cultiva duas árvores raras das quais não abre mão: um pé de sapoti – que no Amazonas chamamos de sapotilha – e uma pé de manga Rosa, que de tão doce deve-se comer rezando em agradecimento à mãe natureza.

É claro que a capa do Diário Popular com a manchete da Lei Áurea – Lei Áurea, ou Lei Imperial número 3.353 –,   sancionada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888 que aboliu a escravidão no Brasil –, é uma reprodução, mas nem por isso deixa de ser histórica. Mas como essa capa histórica veio parar nas mãos de dona Nathália? Segundo esta senhora, que se orgulha em dizer que nunca usou óculos, tem uma saúde de ferro e dirige o próprio carro, a página do jornal foi arrematada em um leilão por seu pai, Oscar Brasil, por volta de 1950.

— Meu pai gostava de história. Por isso estava sempre pesquisando, realizando buscas em antiquários e comprando peças importantes. Essa ficou comigo guardada dentro de um livro até o dia que eu reencontrei e mandei emoldurar, por saber da importância do documento –, conta dona Nathália.

Capa do jornal e A última foto da princesa Isabel (em pé) com a família

O jornal

Apesar de ter sua falência decretada pela 2.ª Vara de Falências de São Paulo em 23 de janeiro de 2018,  saindo de circulação, o Diário Popular é considerado um dos maiores jornais da história da imprensa brasileira. Foi fundado por Américo de Campos, que havia se juntado a seus colegas do Correio José Maria Lisboa e Rangel Pestana para fundar A Província de S.Paulo, em 1875.

Em 1884, Campos e Lisboa foram demitidos pelo novo sócio da Província João Alberto Salles (1857-1904),  após protestarem contra a nova política editorial imposta por Salles – a relação conflituosa entre jornalistas e empresários de comunicação, por liberdade de imprensa e interesse comerciais  não é de agora. No fim de 1884, Campos e Lisboa fundaram o Diário Popular, com o apoio financeiro de Antônio Bento, abolicionista e dono do Jornal do Commercio de São Paulo. O nome do jornal foi “inspirado” – pra não dizer copiado –, no homônimo português.

Depois desse passeio pela histórica do Brasil e da imprensa nacional a pergunta que inevitavelmente teria que ser feita à dona Nathália Brasil é a mesma feita diariamente no programa “Trato Feito” (Pawn Stars), do History Channel:

— O que você quer fazer com isso?

— Eu poderia emprestar para escolas realizarem exposições na data em que se festeja a Lei Áurea, só assim as crianças teriam acesso a um documento tão raro da História do Brasil. Se algum professor de história se interessar estou disposta a isso – , responde dona Nathália.

— Mas se aparecer um comprador, a senhora vende? – insiste o repórter.

— Se pagar, eu vendo ! –, responde, incisiva, sem revelar o valor da peça.

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