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João de Mendonça Furtado, o lendário presidente da federação das Indústrias do estado do Amazonas (FIEAM), era de Tarauacá (AC). Mas fez fortuna e fama em Manaus (AM), como industrial madeireiro.  Tinha 1,97m, uma mão descomunal. Tão grande que sua secretaria tinha que enrolar esparadrapo na caneta Joffa Nove para ele poder ter tato, assinar e despachar os papeis que se avolumavam na mesa. Tinha um gênio explosivo quando necessário  e um coração do tamanho do mundo. Fazia um afago com a mesma intensidade que dava um esporro.

Apesar de autodidata, tinha um incrível talento para administrar e aglutinar aliados. Por conta disso, se elegeu seis vezes presidente da federação. Era tão sincero que às vezes soava meio grosseiro. Mas era só a casca dura, lá no fundo era um homem generoso, justo e solidário.

Além do amor exacerbado pela penca de filhos que teve  – tinha gente que falava em 18 –, as meninas de seus olhos eram a FIEAM e o sistema “S”, SESI e o SENAI. Certa vez, na entrega do prêmio Industrial do Ano, conferido pela federação, que, naquele ano  homenageava o empresário Edgar Monteiro de Paula, o convidado de honra era o então Ministro do Trabalho, Almir Pazzianoto, do governo José Sarney. Depois de ler seu “improviso” de oito laudas, Furtadão, como era chamado, concedeu a palavra ao homenageado, pai do jornalista Dudu Monteiro de Paula.

Edgard, que era um homem educado, simples e sensível,  começou contando sua infância e as dificuldades para construir sua trajetória empresarial na empresa Modiesel Indústria e Comércio Ltda., uma das mais bem sucedidas empresas de Manaus que fabricava motores diesel MWM, além de  vender carros, tratores, empilhadeiras e  pneus na Modiesel Veículos. Quer dizer, Edgar merecia de fato ser o Industrial do Ano.  Mas, na  quarta lauda do discurso do simpático Edgard, João Furtado interrompeu:

— Porra, Edgard! Tu vais querer contar tua vida toda. O ministro está com fome rapaz! – disse, arrancando uma explosão de gargalhadas. Em seguida mandou servir o tucunaré recheado, feito por dona Eurides, sua eterna cozinheira.

Em outra solenidade, desta vez na entrega do prêmio  Operário Padrão, que era escolhido anualmente pelo serviço Social da Indústria (SESI),  o então superintendente da entidade, professor José Edson, resolveu convidar o coral do Teatro Amazonas, para dar um toque clássico ao evento. Antes da formação da mesa, no auditório Gilberto Mendes de Azevedo, Edson chegou perto do presidente e quase que suplicou:

— Seu João, pelo amor de Deus, depois do seu discurso, o senhor vai dizer: e agora, senhoras e senhoras, o Coral do Teatro Amazonas, sob a regência do maestro Nivaldo Santiago. O senhor entendeu?

— Edson, tu estais pensando que eu suo idiota, é? Claro que sei disso. Não precisa nem avisar!

— Tá bom, presidente, mas não vá esquecer: coral do Teatro Amazonas, soba a regência do maestro Nivaldo Santiago, hein!

— Não enche meu saco, cacete!

Depois de  ler seu “ improviso”, guardando o papel no bolso do safari de linho cinza, Furtadão fez uma pequena pausa, arrumou o óculo e sapecou:

— E agora, senhoras e senhores, Nivaldo Santiago e seu conjunto!!!

Ao meu lado, o professor Edson passou mal:

— Ele ainda vai me matar!

Fui assessor de imprensa de João Furtado de 1977 a 1989. De perto, pude testemunhar sua determinação de gestor, seu amor ao Amazonas e a generosidade de seu coração.

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