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Quem viveu esse tempo de trevas nos  primeiros dias de janeiro de 2021, nunca mais esquecer. E as futuras gerações  que  daqui a alguns anos ousarem  pesquisar os jornais da época, vais se perguntar se isso aconteceu mesmo ou seria o roteiro de um filme de terror ou um filme de horror, que parecem, mas são diferentes. Terror é geralmente descrito como o sentimento de medo e expectativa que precede a experiência horrível. Por outro lado, horror é o sentimento de repulsa que geralmente ocorre depois de algo assustador é visto, ouvido ou experimentado. É a sensação que se tem depois de chegar a uma realização terrível ou experimentar uma ocorrência profundamente desagradável. As duas categorias se enquadram perfeitamente à semana vivida pela população de Manaus – medo, ansiedade,  horror, terror e repulsa.”

Não foi por falta de aviso

Como bem traduziu o portal “Outra Saúde”, faz pelo menos um mês que esta grande tragédia em Manaus – e mesmo no Amazonas como um todo –  se anuncia. Desde setembro e outubro, especialistas já observavam uma tendência de crescimento nos casos e internações e pediam medidas preventivas.

Eles estão surdos

Mas ninguém deu ouvidos, e as baladas de fim de ano bombaram madrugadas adentro. “Que segunda onda que nada, isso é discurso de maricas!”; “Pra que máscara? Isso só atrapalha!”; “Não tenho medo, estou imunizado por cloroquina!”; “Agora,  o importante é salvar a economia e os empregos!...” Pois é, deu no que! A análise do de “Outra Saúde” é um vídeotape martelando em nossas cabeças. E que, com certeza vai apavorar os garotos de amanhã que ousarem pesquisar  o  período e desenterrar velhos fantasmas na internet.

O Amazonas pede socorro

Delphina, o sinal

Em meados de dezembro, o Hospital Delphina Aziz, referência para covid-19 na capital, já atingira quase 100% da ocupação de seus leitos de UTI.

Medida acertada

Na rede privada a situação era a mesma. No dia 26 de dezembro – portanto, logo após aquele que costuma ser um dos períodos de maior ao movimento nas cidades –, um decreto estadual proibiu o funcionamento de atividades não-essenciais por 15 dias. Essa seria a medida acertada – e já com atraso –, para o tsunami que se aproximava.

... Mas não vingou!

Mas imediatamente, depois da decisão do governador Wilson Lima (PSC), explodiram protestos de uma multidão no centro de Manaus e até na avenida em mora o chefe do Executivo.

Governador cedeu

Diante da pressão, Wilson cedeu : shoppings, bares e o comércio em geral reabriram no dia 28. Naquele mesmo momento, não só os hospitais estavam lotados, como também os cemitérios.

Tomassem as rédeas

Naquele momento, o poder público – e  leia-se aqui Executivo, Legislativo e Judiciário – , teriam que chamar pra si a responsabilidade, tomar as rédeas da situação e garantir que os casos não aumentassem.

Mais covas

Mas o  governo do estado começou a instalar contêineres com câmaras frias para abrigar os cadáveres recolhidos nos hospitais de referência. A prefeitura de Manaus começou a abrir novas covas.

Sufocados

Também não faltaram alertas de que conseguir um leito de UTI em Manaus já não era garantia de atendimento, pois faltava oxigênio em várias unidades.

Subestimaram o problema

Na semana passada, o governo do Amazonas já tinha começado a usar o apoio da FAB para levar cilindros do gás. Mas ontem o problema se agravou e começou a mobilizar a atenção em todo o país (e também da imprensa estrangeira).

“Câmara de asfixia”

Talvez a primeira manchete a ilustrar com dureza o que está acontecendo em Manaus tenha sido a da colunista Monica Bergamo, na Folha: "'Oxigênio acabou e hospitais de Manaus viraram câmara de asfixia', diz pesquisador da Fiocruz".

Wilson Lima e Eduardo Pazuello

“Pior dia da minha vida”

O governador Wilson Lima chegou a afirmar que quinta-feira, 14/0, foi o dia mais difícil de sua vida. Disse que o estado fez sua "lição de casa" durante a primeira onda (quando o vírus correu solto no estado), mas que agora a situação é "fora do comum".

Morte por falta de ar

Ao  El País, um médico do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) diz que os pacientes estavam recebendo uma fração mais baixa de oxigênio do que o necessário, porque os estoques só cobririam algumas horas.

— Colegas perderam pacientes na UTI por causa da falta de oxigênio. Eles ainda tentaram ambuzar (ventilar manualmente), mas foi só para tentar até o último recurso mesmo, porque é inviável manter isso por muito tempo.

Vontade de chorar

O médico também disse que “ambuzar”cansa muito, tem que revezar os profissionais. Chamaram residentes para ajudar na ventilação manual.

— A vontade que dá é de chorar o tempo inteiro. Você vê o paciente morrendo na sua frente e não pode fazer nada. É como se ver numa guerra e não ter armas para lutar –, disse outra médica do HUGV, no Estadão.

Faltou até cilindros

Os médicos começaram a fazer pedidos na internet para que quem tivesse cilindros em casa doasse aos hospitais. Pode soar estranho, mas há algum tempo pessoas começaram a tentar estocar esses cilindros em seus domicílios, já que os doentes são recusados nos hospitais por falta de leitos.

Monopólio no oxigênio

O prefeito David Almeida (Avante) criticou o monopólio existente na produção e distribuição de oxigênio no Brasil. Ele comparou que um metro cúbico do produto está sendo comercializado a R$4,80 no Amazonas, enquanto em outros estados o preço chega a ser de R$2.

— Existe um monopólio na distribuição do oxigênio em todo o Brasil. Uma empresa só que defende a exclusividade como regras criadas em Brasília, e as outras empresas não podem fornecer o insumo. Se nós tivéssemos outras empresas, Manaus não teria passado por esses vexames –, cutucou o prefeito.

Explosão da demanda

Sobre o colapso no sistema de saúde devido à falta de oxigênio, David fez um comparativo de que durante o primeiro pico de Covid-19 na cidade, no ano passado, foram consumidos aproximadamente 30 mil metros cúbicos de oxigênio por dia. Hoje, neste cenário, são necessários 76 mil metros cúbicos para abastecer todas as unidades hospitalares de Manaus.

— Porém, a capacidade de produção das usinas instaladas em Manaus é de apenas 35 mil metros cúbicos –, observou o prefeito.

ÚLTIMA HORA

Ideal para trazer o oxigênio

O avião de transporte Embraer KC-390 Millennium da FAB fi para os EUA. Em meio ao agravamento da pandemia, com a falta de oxigênio em Manaus, e às vésperas da campanha de vacinação contra a Covid-19, o Brasil perdeu uma das suas parcas estrelas do combate logístico à crise sanitária.

Trata-se de um avião de transporte Embraer KC-390 Millennium da FAB (Força Aérea Brasileira), um dos quatro em operação no país. É a aeronave com maior capacidade de carga em serviço, podendo levar até 26 toneladas.

Avião está nos Estados Unidos

Pois bem, apesar da gravidade da situação, o Brasil enviou seu maior avião de carga para treinar nos EUA. E a pergunta que não quer valar é esta: Por que não usou a aeronave para trazer oxigênio a Manaus? Pois bem, o 4 KC-390 da FAB, peça central para levar materiais na pandemia, ficará fora até fevereiro. Durma com um barulhos desses!

Mourão culpa população

O vice-presidente general Hamilton Mourão (PRTB) atribuiu à população a responsabilidade pelo aumento recente no número de casos de covid-19 no Brasil. Segundo ele, há uma dificuldade natural para impor medidas de restrição no país por conta de uma “característica do povo”.

Vice-presidente Hamilton Mourão

Para o general, “o nosso povo não tem essa imposição de disciplina”, algo que não ocorreria em vários outros países que estão, frente a uma segunda onda da pandemia da covid-19, impondo quarentena e até mesmo lockdown.

ORGULHO

O humorista Whindersson Nunes usou seu Twitter, na noite de quinta-feira (14), para anunciar que estava providenciando a compra e envio de cilindros de oxigênio para hospitais de Manaus. Além dele e de Marcelo Adnet, nomes como  o humorista Tirullipa, a atriz e apresentadora Tata Werneck, o escritor Paulo Coelho, as cantoras  sertanejas Simone e Marília Mendonça, e o cantor Tierry também entraram na corrente do bem para ajudar a região. Gusttavo Lima garantiu a compra de 150 cilindros. Wesley Safadão também se manifestou em seguida, se unindo à campanha de Whindersson, junto com a esposa Thyane Dantas. "Vamos juntos nessa meu amigo, eu também faço questão de ajudar com 10 cilindros de 50L", publicou no Twitter.

VERGONHA

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje que a situação do Amazonas em relação ao coronavírus está "terrível", mas isentou o governo federal e declarou que "fez sua parte, com recursos, meios".

— A gente está sempre fazendo o que tem que fazer, né? Problema em Manaus: terrível o problema lá, agora nós fizemos a nossa parte, com recursos, meios", declarou. O ministro da Saúde [Eduardo Pazuello] esteve lá na segunda-feira, providenciou oxigênio, começou o tratamento precoce, que alguns criticam ainda – reclamou o ex-capitão.  Paxzuello veio, mas não resolveu!  Em ação civil pública ajuizada ontem na Justiça Federal de Manaus, cinco órgãos públicos federais e estaduais afirmam que a responsabilidade por dar uma solução ao colapso no fornecimento de oxigênio no Amazonas é do governo federal. A ação foi ajuizada por representantes do MPF (Ministério Público Federal), DPU (Defensoria Pública da União), Ministério Público do Estado do Amazonas, Defensoria Pública do Estado do Amazonas e Ministério Público de Contas do Estado do Amazonas

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