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CRM-AM investiga médica que fez nebulização com cloroquina, mas é a favor do medicamento

O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM) divulgou uma curta nota no dia 15 de abril informando que apura o caso da médica Michelle Chechter, que fez o uso de nebulização com hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19, no Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu, em Manaus, e acabou ocasionando mortes de pacientes. A sindicância foi instaurada depois da pressão por um posicionamento após o episódio ganhar proporção nacional.

No entanto, o que o presidente do CRM-AM Jorge Akel não fala abertamente é que ele mesmo assinou, em 8 de abril de 2020, a resolução 101, recomendando o uso de cloroquina em pacientes diagnosticados com sintomas leves de Covid-19.

“Recomendar que as prescrições de medicamento à base de cloroquina e hidroxicloroquina sejam feitas em receita especial de duas vias”, assinala o texto.

À época, o médico Jorge Akel era secretário-geral da entidade e José Bernardes Sobrinho, que também assina o documento, o presidente. Em março de 2021 as funções foram invertidas. Agora, Akel é presidente e Sobrinho é seu vice.

Sem resposta

A Revista Fórum pediu nota oficial sobre qual a recomendação atual do CRM em relação ao uso de cloroquina no Amazonas. Em resposta, o conselho informou que o presidente Jorge Akel não emitiria qualquer documento sobre o uso do medicamento. Ele também não quis falar por telefone.

Um ano depois, a recomendação continua no ar e nas redes sociais do conselho, mesmo sem eficácia comprovada e com estudos contra a prescrição do medicamento. Também não houve mais qualquer outra resolução pedindo para que os médicos no Amazonas não aplicassem mais o tratamento com cloroquina.

Nas redes sociais, Akel compartilha postagens elogiosas ao governo Jair Bolsonaro, exalta as ações do Ministério da Saúde no Estado do Amazonas e dá vazão a postagens que fazem críticas ao governo do PT.

Em Manaus, muitos médicos continuam recomendando o uso de cloroquina. Michelle Chechter, que fez o uso de nebulização com cloroquina, será investigada em sigilo pelo CRM-AM. Quando usou o procedimento, postou nas redes sociais e não fez questão nenhuma de manter em segredo o tratamento experimental.

Marcus Lacerda desaconselhava cloroquina em 2020

Estudo no Amazonas

Uma análise envolvendo 28 estudos e 94 pesquisadores pelo mundo, inclusive de Manaus, concluiu que o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes acometidos por Covid-19 aumenta a probabilidade de óbito pela doença. A pesquisa, publicada na revista científica Nature, também constatou que o medicamento não possui eficácia contra o novo coronavírus.

Colaboraram com o estudo o médico e especialista em saúde pública Marcus Lacerda, da Fiocruz Amazonas, e o pesquisador da Fundação de Medicina Tropical Vanderson Sampaio, entre outros especialistas que atuam em Manaus e já haviam constatado a ineficácia dos medicamentos logo no início da pandemia.

"O CRM-AM também abriu sindicância contra o estudo #clorocovid em 2020. Só que nesse caso, descobriu que se tratava de um estudo aprovado na Conep, e que seguiu todas as normas éticas e regulatórias", disse Marcus Lacerda pela rede social Twitter.

À época do estudo, no início da pandemia, Lacerda chegou a ser muito atacado pelas redes sociais, principalmente por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que acreditava no medicamento.

+LEIA A ENTREVISTA DO MÉDICO MARCUS LACERDA PARA O BMA+

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