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O filme ‘A Vida em Si’ é dirigido e roteirizado por Dan Fogelman. Quem não o identifica de nome, conhece muito bem o trabalho dele: trata-se do criador de “This is Us”, a série dramática de maior sucesso da atualidade da televisão americana. No longa, ele explora o que já vemos na telinha: uma história familiar ambientada ao longo de décadas, com muitos momentos dramáticos, personagens falando o tempo todo e cenas para fazer o público chorar facilmente.

Diferente da TV, porém, Folgeman exagera nas conexões criadas para fazer avançar a trama e coloca foco demais na própria narrativa. A produção começa com Will (Oscar Isaac, muito bem em cena) completamente perdido após ser deixado pela esposa Abby (Olivia Wilde, linda e apagada como sempre). Revelar o que acontece a partir daqui seria dar spoilers, porém, a trama percorre duas gerações e envolve Nova York e Europa.

Os primeiros 10 minutos enganam positivamente quem somente espera um romance à la “Love Story” ou “A Culpa é das Estrelas”. O filme inicia com muito sarcasmo a partir de uma narração em off de Samuel L. Jackson em que ele zoa os personagens presentes e arquétipos relativos a heroísmo no cinema. O intuito de colocar o público para pensar, saindo da zona de conforto com a proposta de um narrador não confiável mostra-se instigante, porém, Folgeman trai o próprio conceito ao sempre revelar o que aconteceu de fato como se não confiasse no espectador. Tal expediente parece uma forma do diretor/roteirista querer sempre chamar a atenção para si seja com estas artimanhas narrativas seja com diálogos irritantemente cheios de pompa (as declarações de amor de Will são enjoativas de tão açucaradas).

“A Vida em Si” peca ainda por sempre optar pelo caminho mais óbvio. O primeiro capítulo é o mais exemplar disso: quem viu o trailer e assisti o início do filme, imagina o que pode ter acontecido com Abby. Em determinado momento, porém, coloca-se uma outra perspectiva relativa à carência afetiva e a dependência de Will, o que ampliaria o escopo do filme. Infelizmente, no fim das contas, era tudo aquilo que já imaginávamos mesmo. E assim, Folgeman adiciona e descarta elementos, esticando a trama em diálogos pomposos que se revelam sem a força pretendida – o que é o Sr. Saccione (Antonio Banderas) falando uns cinco minutos sobre o passado dos pais?

Com um desfecho piegas tentando jogar na conta da aleatoriedade da vida e a da força do amor todas as ligações exageradas da trama, “A Vida em Si” pode até emocionar os mais desavisados e servir para aulas de motivação com tom de autoajuda. Agora, se você for um pouquinho mais exigente e querer visões mais complexas sobre as conexões estranhas da vida, assista “Short Cuts” ou “Babel”.

Caio Pimenta – Editor-Chefe do Cine Set e Diretor de Programas da TV Ufam

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