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'Conversa pra Boi Dormir', os deliciosos causos do Festival de Parintins, contados por quem viveu essa aventura

A primeira vez que o jornalista Mário Adolfo pisou em Parintins foi em 1984, quando aceitou  a provocação do também jornalista Flávio Assen de Carvalho, seu colega de redação no jornal A Crítica.

— Quer ver boi voar? Vamos pra Parintins.

— Quando?

— Agora, o barco sai às 18h.

Mário topou e só teve tempo de ir em casa “pedir permissão” de sua mulher, Maria Teresa, e correr para o roadway onde embarcaram felizes da   vida no navio-motor “Onze de Maio”, o mesmo que havia naufragado  em 1978 e deixado 23 mortos. Brrrrrr! .Um belo começo pra quem sai e busca do desconhecido. Mas, quando se tem 20 e poucos anos não se teme nada.

A viagem foi inesquecível. Estavam no mesmo barco Chico da Silva e Teixeira de Manaus. Logo, as primeiras “aulas” de boi, os jornalistas foram aprendendo a bordo, com Chico da Silva – na época estourado nacionalmente com Padeiro é Meu nome e Sufoco –, numa deliciosa conversa entrecortada por cantos de toadas ao som  de um atabaque batucado pelo compositor, filho de Parintins.

Naquela  época, Belém do Pará sabia muito mais de Parintins que Manaus. Para se ter uma ideia, o jornal lido na ilha era O Liberal. Caprichoso e Garantido se apresentavam numa arena de madeira e, naquele ano, depois de uma racha com a prefeitura de Gláucio Gonçalves – nosso anfitrião –, Caprichoso pulou fora da programação oficial e se apresentou no seu curral.

De fato, naquele ano, os geniais artistas de Parintins fizeram até boi voar, como Assem havia prometido. Mário, boquiaberto nem acreditava no que estava vendo. No retorno a Manaus, ele e Flávio escreveram talvez a primeira grande reportagem sobre o festival de Parintins, cujo título foi um lugar comum dos diabos – “PARINTINS, A GARANTIA DE UM FESTIVAL CAPRICHADO”.

Dali em diante, o jornalista cobriu a farra do boi por longos 19 anos. Numa época em que não havia computador e as reportagens eram escritas na máquina, em laudas de papel e redigitadas no telex para chegar até à redação. O rolo de filmes com as fotografias chegavam a Manaus através dos  pilotos da Taba e Rico,  empresas aéreas  que faziam a ponte aérea Manaus-Parintins.

— As legendas dessas fotos eram ditadas em  telefonema do repórter ao editor do jornal. Temos difíceis, mas divertidos –, comenta Mário Adolfo.

Os carros que haviam na ilha era poucos, só os das famílias mais abastadas e os dois da prefeitura.  Logo, a cobertura era feita de carroça ou de bicicleta.

Em 1998, o então governador Amazonino Mendes protagonizou uma verdadeira revolução na ilha ao construir o Bumbódromo. Isso mesmo, bumbódromo! Elementar, se  a arena que abrigava o samba era “Sambódromo”, logo, a arena do boi bumbá teria que ser “Bumbódromo”.

Mário Adolfo estava lá na inauguração e viu muita coisa rolar nos bastidores da maior festa folclórica da América Latina. Os resultados dessas aventuras foram reunidos em gostosos “causos” de boi, publicados no livro “Conversa pra Boi Dormir”, lançado pela editora  Valer, em 2001, pelo editor Tenório Teles. “Mário Adolfo encontrou  uma maneira divertida de apresentar aos aficionados do boi a outra face dessa grande celebração popular”, escreveu Tenório Telles na apresentação do livro.

Recheadas de humor, as história contadas pelo jornalista aconteceram, garante ele.

— Eu apenas folcloreei um pouco para dar mais graça. Mas quase tudo eu vivi pessoalmente. As que não vivi me foram contadas por amigos da ilha –, revela Adolfo.

O livro foi lançado duas vezes. A primeira, em Patintins,  às vésperas do Festival  e a segunda em Manaus, em julho,  no Café Adrianópolis. De  acordo com o autor, na noite de lançamento, ele conseguiu uma façanha inédita: colocar no mesmo palco dividindo o microfone, David Assayag, na época levantado de toadas do Garantido  e Arlindo Júnior, o pop da selva do Caprichoso. “Isso que não era comum à época, devido ao revanchismo que marcava o confronto dos dois bumbás”, conta Mário, lembrando que a festa de lançamento reuniu também  grandes figuras da política, como o então governador Amazonino Mendes; Omar Aziz (que se elegeria governador mais à frente): Serafim Corrêa (futuro prefeito);  Vanessa Grazziotin (futura senadora), o deputado federal Pauderney Avelino; os desembargadores Graça Figueiredo e Domingos Chalub; a ex-presidente da Assembleia, Beth Azize e o senador Bernardo Cabral, que escreveu o prefácio do livro.

Primeira viagem foi de barco

Crônicas

A partir desta semana o Blog do Mário Adolfo publicará uma crônica de “Conversa pra Boi Dormir”  diariamente, com ilustrações do autor, para suprir a ausência da festa, adiada por motivos da pandemia do novo coronavírus.

— Mário Adolfo escreve bem. Seu humor é cristalino, seu vocabulário é preciso e sua ironia é cortante como um bisturi afiado –, afirma o escritor Simão Pessoa, na orelha do livro.

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