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Barulho no céu: o que se sabe sobre o fenômeno que tomou as redes sociais

Uma das conseqüências do rápido  isolamento social , causado pelo coronavírus, é que o nível de ruído ao ar livre foi reduzido drasticamente, a ponto de muitas pessoas estarem desfrutando do silêncio.

A falta de barulho também está permitindo que se ouça mais coisas que talvez não era possível antes. "Pode ser um avião que a pessoa não tenha visto; uma tempestade distante ou um trovão. A questão é que podem ser fenômenos que as pessoas não estão habituadas a ouvir", explica Ricardo Ogando, astrônomo no Observatório Nacional no Rio de Janeiro.

Os sons, como ruídos e zumbidos foram relatados em muitos lugares ao redor do mundo. "Há algumas hipóteses para esse conjunto maior de barulhos ocorridos em 2020, mas nada conclusivo ainda. Esses barulhos, que lembram sons de trombetas, podem ter muitas causas   ocorrendo em diferentes lugares no planeta", explica Daniel Rutkowski Soler, professor de Física da Universidade ESEG.

Esse parece ser o caso no Brasil, na Eslováquia, nos EUA e na Argentina, onde cidadãos preocupados  registraram estranhos fenômenos, compartilhando suas experiências nas redes sociais e, muitas vezes, assustando os outros.

Por aqui, há inúmeros relatos de pessoas ouvindo uma variedade de sons inexplicáveis ​​em todo o país. A expressão "barulho no céu" chegou a ficar nos trending topics do Twitter, apesar de órgãos públicos de monitoramento, como a Defesa Civil, não terem mencionado o fenômeno.

Neste mês, o site SoulAsk relatou sons de "trompete" em Bratislava, na Eslováquia. Mas os ruídos seriam mais parecidos com "respiradores" - como o utilizado pelo vilão Darth Vader na saga Star Wars - do que trompetes, de acordo com testemunhas.

Uma explicação científica foi o movimento de placas tectônicas contra o microcontinente perdido da Grande Adria na Europa, embora  não houvesse relatos de terremotos ou outros distúrbios sísmicos.

Em Buenos Aires, o SoulAsk também  relatou sons estranhos e inexplicáveis ​​de vários tipos, alguns dos quais perturbam os animais domésticos. Como não se teve nenhuma manifestação por especialistas, o acontecimento deu brechas para que sites  teorizassem sobre a presença de humanóides.

Mas o que é?

Uma das razões mais difundidas para os "barulhos oriundos do céu" seria o chamado "skyquake", ainda que não seja algo cravado cientificamente, como a teoria sobre "óvnis", por exemplo.

Eles seriam mais comuns em áreas litorâneas e teriam origens ou humanas ou científicas. "Os skyquackes podem estar relacionados, por exemplo, com a entrada de meteoroides na atmosfera, produzindo meteoros (estrelas cadentes) com som mais significativo. Podem ser o estrondo produzido por aviões atingindo a velocidade do som. Podem ser testes militares. Podem estar relacionados a instabilidades no campo magnético da Terra, que, devido a grandes quantidades de matéria, vindas do Sol e colidindo com essas zonas instáveis do campo magnético da Terra, produzam sons intensos. Há, portanto, muitas  possíveis causas para os skyquakes", esclarece o físico Daniel Soler.

Na verdade, esse tipo de fenômeno é algo que já aconteceu muitas outras vezes na história. Há registros que datam até do ano de  1800 . Inclusive, no ano de 2012, foi criado o site  Hum , no qual se pode encontrar  ocorrências desses sons vindos do céu em todo o planeta.

No entanto, de acordo com o astrônomo Ricardo Ogando, ainda são necessárias inúmeras pesquisas para se  definir a origem desses fenômenos. "Um fator muito importante para a ciência (em uma investigação) seja barulhos no céu ou até mesmo o tratamento para o coronavírus é você ser capaz de produzir o resultado. E, quando ele é produzido, faz-se a chamada avaliação de pares, que é quando outro grupo de pesquisa tenta reproduzir o mesmo desfecho. No caso dos barulhos no céu, isso ainda não ocorreu. Temos uma pergunta sem respostas, apenas com teorias", opina.

Segundo o físico Soler, porém,  não há motivos para preocupação. "Nenhuma alteração na natureza, com que devamos nos preocupar agora, está por trás da ocorrência desses sons. Certamente, aliás, diversas outras questões, como o próprio coronavírus, a curto prazo, e o aquecimento global, a médio e longo prazos, por exemplo, nos demandam, elas sim, imensa quantidade de preocupação. Ou, pelo menos, deveriam demandar, e de toda a população global", afirma o especialista.

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