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Bancada Coletiva: “Nós somos a nova esquerda”

No mandato coletivo, o vereador eleito compartilha as decisões com um grupo de pessoas.

A grande novidade das eleições municipais de 2020 não foram os três candidatos de direita que brigavam entre si pelo apoio do presidente Jair Bolsonaro e acabaram com votação pífia. Nem um surgimento de um estreante da  política, de 19 anos, que se elegeu com 7,5 mil votos. A sensação foi o surgimento da Bancada Coletiva, que reuniu cinco mulheres do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – quatro delas negras –, e abocanhou  7.662 votos dos 10 mil votos que o partido obteve. Isso tudo com uma campanha com muita caminhada, telefonemas com pedido de apoio, muita conversa olho no olho com o eleitor e pouco dinheiro. No total,  a campanha custou R$ 62 mil – 12% vieram  de doações, mais ou menos R$ 11 mil. Para efeito de comparação, o vereador eleito Amom Mandel Lins Filho (Podemos), sozinho, detonou R$ 285,9 mil em sua campanha.

Apesar das dificuldades e da falta de apoio do próprio partido, a Bancada Coletiva foi a quinta candidatura mais votada de Manaus. Isto é, 'ganhou', mas não levou porque o PSOL não alcançou o quociente eleitoral deste ano – 23.878 votos. Não deu desta vez, mas, uma semana depois elas já estão de novo na estrada trabalhando a candidatura para Deputada Estadual em 2022.

No mandato coletivo, o vereador eleito compartilha as decisões com um grupo de pessoas. Esse modelo não é previsto na lei e exige um acordo informal entre os integrantes. No caso da Bancada Coletiva de Manaus, a vereadora a tomar posse no Legislativo  Municipal seria a produtora cultural Michelle Andrews,  mas as decisões seriam tomadas  em comum acordo pela Assistente Social  Nicole Fernandes; a acadêmica de Direito, Alessandrine  Silva; a professora Silvia Moraes; e pela líder comunitária do São Raimundo, Patrícia Andrade.

No fim de semana, o Blog do Mário Adolfo reuniu duas representantes da Banca, Michelle e Nicole, para uma conversa  franca onde elas revelam os avanços conquistados na campanha de 2020, a nova forma de fazer política, a falta de apoio do próprio partido que defendem e a disposição para ocupar o PSOL e avançar em pauta como as questões LGBT, racismo, violência contra a mulher e combate à homofobia e misoginia.

A ENTREVISTA

Mário Adolfo entrevista a bancada coletiva

Blog do Mário Adolfo – A Bancada Coletiva obteve  7.662 votos. Ganhou mas não levou por causa do quociente eleitoral, que nesta eleição era de 23.878 votos. O que ficou de ensinamento das Eleições Municipais de 2020?

Michelle Andrews – A Bancada Coletiva é composta por cinco mulheres do PSOL. Juntas fizemos uma política da vida real, mas distribuída coletivamente. A gente também não comprou voto. Fomos a quinta candidatura  mais votada em Manaus, mas, infelizmente, não conseguimos ocupar uma cadeira no Parlamento Municipal. Fizemos uma política bem diferenciada de tudo que está aí.

BMA – Nicole, você acha que  essa nova forma de fazer política, proposta lançada pela Bancada Coletiva, veio para ficar?

Nicole – Sim, a  ideia veio para ficar e com os resultados positivos e  com o apoio dos eleitores que ficou muito nítido nas eleições, nós sentimos que as pessoas gostaram da ideia, assumiram o  papel de protagonista também nessa história e estão se  juntando, juntando os amigos a família para se engajar politicamente e  formar seus coletivos, falar de política em   casa,   na vizinhança, no trabalho. Esse foi um dos dados mais  positivos da Bancada: despertar nas pessoas esse sentimento do ser político. As pessoas ficaram assim muito motivadas politicamente quando descobriram  a  vantagem de  ter uma Bancada Coletiva.  Durante  a campanha de rua  recebemos muito apoio. Outros candidatos conversaram conosco e ficou muito claro que despertamos  essa nova forma de fazer política. Foi muito bonito.

BMA – Michelle, você acha que o eleitor mais conservador assimilou essa a nova proposta, um mandato apenas mais com “cinco vereadoras” decidindo coletivamente?

Michelle – Eles aceitaram a ideia a partir do  momento em que nós criamos campos políticos  para conversar, mostrar a proposta. Porque o que a gente quer? Queremos o bem viver  da cidade. Então, falamos de segurança, educação, cultura, iluminação pública... São pautas que a sociedade quer no geral. Independente de ser de esquerda, de direita ou conservador. Agora, sim, levamos algumas bandeiras de luta que, talvez para grupos conservadores, precisaríamos de mais  tempo para conversar, como  as pautas LGBTs, pautas de  negritude. Mas, acho que sim. Há uma abertura para conversar com todo mundo. Nós tivemos votos  de evangélicos, de gente de Axé,  gente que ia votar em outro candidato a prefeito que era de direita e votou na gente só porque leu uma proposta lá e gostou, porque  fazia parte do pensamento dele.

Nicole e Michelle da Bancada Coletiva
Nicole e Michelle da Bancada Coletiva

Nicole (interrompendo) – Pessoas que votaram no atual presidente que a gente tem (Bolsonaro) e foram fazer campanha pra gente. Quer dizer, não só votaram como também foram fazer campanha. A Bancada trouxe o despertar de alguns conceitos nas pessoas que são de direita, que são conservadoras, mas que acreditaram na proposta. Como a Michelle falou, é uma questão de tempo pra chegar nessas pessoas com esse tipo de debate, de pauta mais progressista.

BMA – O que faltou pra Bancada Coletiva atingir seu principal objetivo, a conquista de um mandato na Câmara Municipal?

Michelle – O apoio institucional mais forte do nosso partido. Agora já entendemos isso e vamos trabalhar  num processo de ocupação partidária, porque na cidade de Manaus o PSOL ainda é o partido que melhor nos acolhe, não é Nicole?  Então, agora, a gente vai fazer uma ocupação política do PSOL pra poder chegar a um coeficiente que precisamos pra conquistar uma cadeira no parlamento.

BMA – Como vocês se conheceram? Já faziam um trabalho social, já exerciam liderança comunitária juntas, até amadurecer a ideia da Bancada  Coletiva?

Nicole – A gente tem um trabalho na cidade de anos. Cada uma de nós tem uma história de  movimento social ou comunitário. E acabamos cruzando nossas histórias.

BMA (interrompendo) – Mas juntas ou separadas?

Nicole – Separadas, mas sempre a gente se juntava nos grandes atos. Organizamos juntas o  “8M” (oito de março, Dia da Mulher) , estávamos juntas no “Ele Não” (contra a candidatura Bolsonaro), organizamos juntas  uma ocupação de pessoas negras e mulheres  na política institucional. Então, nós sempre estivemos juntas em nosso processo de militância. Sempre estivemos juntas em nosso propósito e esse propósito  é a defesa dos direitos do povo. Logo, sempre estivemos juntas. Em determinado momento decidimos que era hora de trazer essa inovação, de pensar novas formas de fazer política. Não dava mais pra fazer a política tradicional que ainda temos  nos dias de hoje, que é uma politica violenta com as mulheres, que não aceita novas pautas, que olha estranho para pessoas negras, para a juventude. Logo percebemos que seria preciso uma nova forma de atingir esses avanços políticos, por isso decidimos nos juntar, por acreditarmos que esse processo poderia dar certo. E deu muito certo! Agora, nos próximos anos, tudo indica que  a gente vai ter grandes desafios, mas também muitos avanços em termos políticos, envolvendo mais pessoas nesse processo.

Nicole Fernandes da Bancada Coletiva
“É muito difícil você conversar com alguém que tem fome. Você está conversando política com ela, mas ela está dizendo que tem fome” (Nicole)

BMA – Vocês acreditam que após 2020, quando  foi registrado o crescimento de novas lideranças como a  Manu, em Porto Alegre; do Boulos, em São Paulo;  e da Marília Arraes, em Recife, está surgindo uma nova esquerda no Brasil?

Michelle –  Sim, eu falaria de renovação, de um novo gás. Os partidos de esquerda têm a suas metodologias, mas também têm um “chavinha” ali, que precisa ser virada. Então, se você não tem uma linguagem, não dá pra fazer um flyer pra todo mundo. Tem que fazer um flyer pra cada segmento da sociedade. Eu não consigo falar pra idosos e pra juventude ao mesmo tempo. Não dá pra fazer mais isso, passou esse tempo. Tem que ter um material dedicado à juventude, um material dedicado aos idosos e aí no meio disso tudo vamos estar falando de sociedade entendendo os recorte necessários.

BMA – É uma abordagem diferenciada para cada segmento?

Michelle – É por aí. Dentro dessa proposta dá para falar de mulheres, LGBTs, de negritude, de mulheres negras, mulheres indígenas, mulheres  mães. Quem não entender que a sociedade é adversa, vai continuar fazendo aquela campanha tradicional, que a gente acha chato, que acha o  debate é demorado. E depois diz  que não entende por que as pessoas não gostam de política.

Nicole  (interrompendo) – E aí vem essa renovação. As pesquisas trouxeram para a gente que nessas eleições houve sim um avanço no processo de ocupação de mulheres travestis e transexuais nas Câmaras de vereadores por todo o Brasil. Mulheres negras eleitas e isso foi muito bonito, muito legal, porque todas as campanhas tinham uma linguagem diferente, que era a linguagem que conquistavam as pessoas. Uma linguagem que despertou essa vontade de participar daquilo. O mais bonito nessas eleições foi ver todo mundo se engajando como se engaja em outras coisas na sua vida, mas que na política não era tão assim. Então, esse crescimento da nova esquerda traz esse novo suspiro e gás que a gente precisava.

BMA – A política de direita do bolsonarismo foi muito fortalecida nos bolsões de miséria e de pobreza. A percepção dessa política vem sendo vista com  um equívoco. Você acha que é possível a esquerda mudar o rumo dessa percepção equivocada de parte dos eleitores que embarcaram no discurso do ódio?

Michelle – Acho que é possível. A gente veio com uma campanha de política da vida real. Não dá para ficar pautando sempre a política pelo ódio, pela mentira, que são as fake news. Vai chegar uma hora em que isso não vai se sustentar. Vejo uma necessidade comum de um país que o bolsarismo não vai conseguir se sustentar e aí precisa de renovação, tanto nesse campo da direita quanto no campo da esquerda. Uma transformação com outras pessoas ocupando o espaço da política partidária e das políticas públicas.

Michelle Andrews e Mário Adolfo
Michelle Andrews e Mário Adolfo

BMA – Então, vocês acham que já começou esse processo de mudança?

Nicole – Sim. É uma questão de tempo para as pessoas perceberem que era passageiro e muito enganoso todo esse discurso de enterrar a velha política, se   colocando como um “herói da pátria”, alguém, que iria tirar todo mundo do sufoco. Então, é uma questão de tempo para que tudo fique explícito e as pessoas  comecem a perceber que os cortes na Previdência Social teriam impacto na vida real delas. Que um corte no orçamento da Saúde, da Educação teria um impacto na vida dela e do filho dela, diretamente. Então, em determinado momento, as pessoas, aos poucos, estão  vendo que tudo isso afeta a vida delas. E elas não queriam isso também.  Só que ainda precisa de um tempo para que percebam isso. Nesse processo será necessário um período de trabalho de base, de sensibilização, porque o distanciamento político foi um processo sistemático. Esse processo de não falar em política foi muito bem elaborado por esse grupo que está aí. Hoje, não falar de política, não querer saber de política é proposital. Então, girar essa chave é um processo que não acaba da noite pro dia. Precisa de muito engajamento das pessoas. Tudo isso que está acontecendo é um momento perfeito para que isso se consolide cada vez mais. Nas próximas eleições a gente tem uma quebra efetiva desse  tipo de política que está posta.

Michele  – E aqui na capital a gente teve candidatos que usaram o nome do Bolsonaro acreditando que ajudaria para uma eleição fácil. Seria algo assim para ganhar a eleição de lavada. E aí as urnas responderam que não era por aí.

BMA – Vocês se identificam com esse rótulo de nova esquerda brasileira?

Michelle – Sim. Fico muito à vontade. Falando por mim, eu tenho uma referência. Respeito por todo mundo que veio antes de mim, que fez uma construção, mas também entendo que precisa teorizar. Estamos fazendo isso com uma candidatura coletiva, que coloca cinco mulheres numa eleição. Vimos muita gente dizer: “Ah,  mulher não vota em mulher!”. Negativo, votou. Tem aqui uma perspectiva diferenciada,  agora concreta de dados, entendeu? Vamos  tentar refinar cada vez mais esses dados que colhemos das urnas. Eu fico confortável em dizer, sim, que somos “a nova esquerda”.

BMA – Como funcionaria, na prática, a bancada de vocês? Alguém iria para a Câmara, seria você, Michelle?

Michele – Seria eu.

BMA – E a decisão seria tomada em grupo?

Michele – É... Seria horizontal.

BMA – E nas situações onde  houvesse um racha?

Nicole – Consenso. As bancadas coletivas têm uma estrutura de confiança. Inclusive, no último Jornal Nacional em que foi falado em bancadas coletivas,  isso foi ressaltado. É  legal ressaltar sempre a questão do consenso. Para se formar uma bancada coletiva é preciso um processo de confiança e esse processo de confiança passa por princípios básicos que são indispensáveis para trabalhar o que a gente quer. A gente tem um acordo de manter a unidade. Durante todo o processo as divergências ocorrem, seja porque Michele não concorda ou seja porque a outra companheira ou eu não concorde. Mas isso tudo é algo que pode ser colocado em uma balança, ser dialogado e levado em frente. Não é algo para racha. Mas as pessoas ficam preocupadas. “E aí, se tiver um racha e se a Michelle resolve abandonar a bancada?” Bom, o fato da Michele ser colocada como CPF dessa candidatura não foi à toa. Foi escolhido a dedo. A gente se organizou, sentou, dialogou todas as possibilidades. E se a Michelle tivesse algum impedimento jurídico, de saúde, quem iria assumir? Isso tudo foi pensado e verificado, não é? Teve gente que pensou que estávamos vindo sem muita organização, mas não. Estava tudo fechado.

Nicole Fernandes ao lado de Michelle Andrews
Nicole Fernandes ao lado de Michelle Andrews

BMA – Todas vocês são casadas?

Michelle – Só eu sou casada.

BMA – Como fazer para administrar casa, filhos, marido e correr para rua para fazer política?

Michelle –  Então, o maridão tem que fazer parte. Se não fizer parte da política da vida real, vai ser complicado, porque a campanha é dia  e noite. A gente acorda com uma ideia e já vai discutindo política. Se ele não fizer parte fica mais difícil, com certeza. Tem que incluir o filho, o marido, a mãe. Unir todo mudo para fazer o processo dar certo.

Nicole – Trouxemos as crianças para o nosso convívio e adaptamos o nosso convívio às crianças. Porque política não é um mundo e nem um espaço para crianças. Inimaginável dentro de uma convenção as crianças correndo em meio a uma discussão. Todas nós fomos preparadas para viver essa nessa situação.

BMA – Quais foram as ações adotadas durante a campanha?

Michelle – A gente teve que adequar tudo por causa da pandemia. Depois, a  nossa estratégia política foi diferenciada porque a gente não tinha dinheiro...

BMA (interrompendo) Vocês gastaram quanto na campanha?

Michelle – R$ 62 mil.

BMA – Veio de onde esse dinheiro?

Michelle – Fundo partidário e 12% desse dinheiro veio de doações, mais ou menos R$ 11 mil.

BMA – Vocês estão candidatas em 2022?

Michelle – Todas nós.

BMA – Deputadas estaduais?

Michelle – Sim.

BMA – Dessa vez vai?

Michelle – Dessa vez vai. Já estamos em campanha. Não para parar e passar um mês de férias. Na próxima eleição estaremos juntas e sabemos que a nossa luta nunca vai acabar. O processo de ocupação de mulheres negras, índias, está além das eleições. A gente está muito firme nessa proposta.

BMA – Com a chegada da extrema direita ao poder via Bolsonaro, temas como homofobia, racismo, xenofobia, vieram muito à tona. Tivemos na semana passada um assassinato de um negro no Carrefour. Que leitura a bancada coletiva faz por esse momento que paga até o Brasil?

Michelle – Não é a primeira vez que acontece isso em espaços públicos, onde não existem pessoas capacitadas, que rotulam pessoas negras como agressivas. Enfim, temos que modificar. Enquanto não sair ocupando como o Zumbi dos Palmares fez acho que não tem outro caminho. As pessoas têm que começar a votar em outros projetos, outras alternativas, votar em mais mulheres negras, mais negros, mais LGBTs e isso vem acontecendo em âmbito de país só que agora a gente que tá ocupando o partido. Tem que acelerar o metabolismo se não vamos ser devoradas em relação a isso. Então, a gente segue combatendo o racismo, o machismo, misoginia,  LGBTfobia continuamente. A gente não para. Todas as nossas redes sociais, o nossos ciclos de amizades são pessoas que não compactuam com o que aconteceu no Carrefour. Isso é muito importante para a gente.

Bancada coletiva Manaus
Elas foram recebidas pelo diretor do BMA

BMA – Na sexta-feira, 21/11, vice-presidente da República, General Mourão, declarou que “não existe racismo no Brasil”. Como vocês recebem o impacto de uma afirmação equivocada dessas?

Nicole – É doloroso ainda ter que ouvir a liderança de um governo dizer que não existe racismo em um país onde a cada 23 minutos uma pessoa negra morre. Isso é muito violento. E as pessoas ainda dizem que as manifestações antirracistas são radicais e violentas. Radical e violento é o que fazer com a gente diariamente. Uma frase dessa é inadmissível. Nosso país não tem uma política afirmativa que realmente cuide da vida dessas pessoas. A gente ainda está num processo muito lento de quebra desse sistema que é racista. Me parece que é proposital, pois essas pessoas sabem dos anos que a gente teve de escravidão, dos anos que a gente teve de negação do nosso ser enquanto gente. A gente não tem direito a ser gente. Por exemplo, Michelle e eu somos negras, reconhecemos  como a violência chega ao nosso corpo. E temos consciência de que com as pessoas mais vulneráveis essa violência chega com muito mais agressividade. Então, sabemos  que essas lideranças políticas precisam fechar esses espaços, porque as pessoas estão indignadas. Não aguentam mais. Precisamos começar essa mudança já. Não dá mais para ficar em “Nota de Repúdio”, não resolve. “Nota de Repúdio” não salva vidas, não faz absolutamente nada. O Carrefour tem nas suas costas mais quatro mortes dentro de suas empresas e só fez “Nota de Repúdio”. Não fez uma movimentação que fosse além de uma “Nota de Repúdio”. Não teve formação na empresa, não foi ouvido o movimento negro. Não foi responsabilizado, transferiu a responsabilidade para uma empresa de segurança. Chega de Tags negras no Instagram #vidasnegrasimportam. Na vida real, as pessoas não ligam para as vidas negras.

BMA – Como vocês avaliam os políticos que hoje ocupam os plenários da Câmara e da Assembleia, alguns com mais de 20 anos de mandato e que pouco fizeram pela sociedade. Está na hora de uma renovação?

Michelle – Resumiu tudo. A renovação não aconteceu. Infelizmente foram partidos de direita que entraram. Alguns dos  perfis  que estão lá não saem dos seus gabinetes. São projetos só de comemoração de datas. O papel de um vereador seria resolver problema de habitação, de moradia. Um vereador pode criar um bairro. E aí passam três, quatro mandatos e não fazem nada. Aqui de fora nós vamos intensificar o controle social, denunciando, tendo a colaboração de alguns jornalistas para que tenhamos visibilidade nessas questões, mas estamos muito tristes com o perfil político que está lá.

BMA – E por que o eleitor continua votando nos políticos que tem esse perfil?

Nicole – São muitas variáveis, desde dinheiro, toma-lá-dá-cá, de gente chegar no dia eleição e falar assim “É para que mesmo essa eleição”? E aí temos  que explicar que é para Prefeito,  para Vereador... Não  podemos parar. Temos que trazer a política para o cotidiano agora, nesse momento!

Michele – As coisas são muito estruturais. A nossa formação política é muito frágil, como a nossa formação de identidade. Por isso esse país ainda continua um país tão racista. Nossa formação de identidade enquanto ser amazônico, enquanto ser do Norte do Brasil, enquanto ser negro ainda é muito frágil. Infelizmente, não tem sido suficiente para combater o que está posto aí. Assim como a nossa formação política que não enxerga que o candidato atual como prefeito é alguém que foi pensado estrategicamente há 30 anos. É uma política que continuou, do Gilberto Mestrinho até às mesmas pessoas que estão concorrendo a prefeitura hoje. Infelizmente, na nossa cidade as pessoas passam fome, têm necessidades muito básicas e ainda acontece muita compra de voto. É muito difícil você conversar com alguém que tem fome. Você está conversando de  política com ela, mas ela está dizendo que tem fome. Ela quer comer e aquele outro candidato vem e te  dá o dinheiro. A gente precisa de uma formação política mais intensa. Precisamos desses vereadores resolvendo o problema das pessoas que ainda são muito básicos. Depois fazer essa sensibilização para que essas pessoas não vendam seu voto. Quando elas vendem o voto, perpetuam os próprios problemas delas. E aí nada muda.

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