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“Quando o povo descobrir quem ele é, o Bolsonaro vai derreter”

Podem até fazer  críticas ácidas, às vezes até grosseiras contra a senadora  Vanessa Grazziotin (PCd0B-AM). Podem até não concordar com suas ideias e dizer que comunismo acabou com a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Mas ninguém pode acusá-la de ser uma política desleal, corrupta, fisiológica ou que tenha algum tipo de nódoa na sua ficha, considerada limpa depois que o Ministério Público Federal (MPF) retirou, em agosto de 2017, seu nome e de seu marido, o ex-deputado Eron Bezerra, ambos do PCdoB, da lista do ministro Edson Fachin, que investiga a operação da Lava-Jato.

De acordo com o Portal do Senado, foi a mais assídua nas sessões deliberativas do Senado em 2017. Das 65 sessões possíveis de presença, ela faltou apenas 5. Omar Aziz (PSD) faltou a 14 sessões e Eduardo Braga (PMDB)  teve 24 ausências. Vanessa é fiel às suas convicções ideológicas, uma das poucas que continuam no mesmo partido, o PCdoB, desde o tempo em que ainda empunhava a bandeira da União Nacional dos estudantes (UNE), combatendo uma já cambaleante ditadura à frente do Diretório Universitário (DU) da Universidade do Amazonas, no início dos anos 1980. Elegeu-se vereadora, depois deputada federal e, em 2010, depois de três mandatos consecutivos deputada federal, foi eleita para o senado federal numa eleição disputada voto a voto com o então senador Arthur Virgílio Filho.

Foi a única da bancada do Amazonas que permaneceu ao lado dos ex-presidentes Dilma e Lula, depois do impeachment. E olha que alguns de nossos senadores, mesmo sendo ministros nos governo do PT, votaram a favor do impeachment de Dilma, votaram para livrar o tucano Aécio Neves e  aplaudiram a prisão de Lula. Grazziotin se mantém do mesmo lado, mesmo sendo enxovalhada nas redes sociais por expor aquilo que pensa.

Nesta entrevista ao Blog do Mário Adolfo, ela indica o caminho para o país sair da crise, diz que está na hora do Amazonas buscar outros caminhos que não seja apenas a Zona Franca, desmascara o governo de Michel Temer e diz que Jair Bolsonaro não passa de um factóide que “vai derreter assim que o povo descobrir quem  ele é”.

Confira a entrevista e o vídeo no final:

Blog do Mário Adolfo – A senhora se acha muito polêmica, senadora?

Vanessa Grazziotin – Não. Eu acho que eu tenho uma convicção muito forte daquilo que eu defendo, apesar de num determinado momento da minha trajetória política muita gente ter achado  que eu teria mudado de lugar, porque eu nasci assim na política com uma marca muito forte de oposição. Estou filiada ao mesmo partido, o PC do B, desde a época em que ele não era legalizado ainda. Então eu comecei na política muito jovem e ficou muito forte a minha marca de opositora. Após 2002 quando a gente elegeu Lula presidente da República, é claro que a gente virou governo. Então, em um determinado momento as pessoas diziam: “poxa, a Vanessa não é mais aquela combativa”. E eu dizia não, o fato é que nos vencemos a eleição, então, nós estamos trabalhando para um país diferente daquele que a gente construiu até então. Quando uma nova crise estourou – e todo mundo sabe que não começou em 2016, mas em 2014, quando a gente reelegeu a presidenta Dilma –, a oposição à época, que é a direita, a conservadora, aqueles que obedecem às ordens dos americanos, não aceitou a vitória da presidente e eles se aproveitaram de uma crise econômica para mudar,  não a presidenta da República, mas para mudar o projeto de país. E é neste momento   que as pessoas passaram a ver novamente a Vanessa. Aquela que luta por um projeto e não por pessoas. É obvio que a defesa da presidente Dilma configurava a própria defesa da democracia. Afinal de contas, uma presidente democraticamente eleita estava sendo retirada do poder sem nenhuma razão. Então, por si só a questão da democracia já seria uma grade questão a me levar a me levar a posição que tomei. Mas, mais do que isso a gente tinha claro, como tem hoje, que tudo aquilo que nós vivemos foi para substituir  o projeto de país. A gente dizia lá atrás: que eles queriam é fazer a reforma trabalhista, tirar os direitos dos trabalhadores, a reforma previdenciária, privatizar o país, tirar os direitos do povo. Tirar um sonho que virava realidade dos jovens ingressarem em uma universidade.

BMA – No momento do impeachment da presidenta a senhora foi a única a alertar sobre o Michel Temer não era o camino mais correto. Hoje as pessoas admitem que a senhora estava certa ou continuam atacando por essa posição?

Vanessa Grazziotin – Queria muito chegar para vocês e fazer uma autocrítica. Pra mim seria bem melhor. Eu dizer: Eu estava errada. Estava sozinha em uma bancada de 11, oito deputados e três senadores eu fiquei  sozinha contra aquilo que chamaram de impeachment e eu sabia que aquilo não era impeachment, era um golpe contra o povo brasileiro e o nosso país. E eu fiquei sozinha. E hoje, dois anos passados, lamentavelmente, o tempo tem nos dado razão. Eles chegaram  ao poder e pra quê? Para  privatizar as empresas públicas, para beneficiar o capital financeiro especulativo, para retirar os direitos do nosso povo e da nossa gente. Vide a reforma trabalhista. Isso aí é algo que nunca vi na minha vida. Simplesmente a consolidação das leis do trabalho, que é o que rege uma relação, onde o forte é quem tem o meio da produção e o fraco é o trabalhador, isso foi rasgado. Então talvez por isso eu seja vista muito polêmica, mas eu sou muito firme na defesa não só da ideologia, mas dos direitos da nossa gente, do direito do  nosso povo. Do direito  do trabalhador, do direito das mulheres, do direito da juventude.

BMA – Senadora, a senhora é a única política da bancada do Amazonas que permanece fiel à presidenta Dilma e ao presidente Lula. A senhora acha que em algum momento vai pagar um ônus nas urnas, porque ficou do lado de dois líderes de esquerda, que vêm sendo dissecados pela mídia e principalmente pelas redes sociais?

Vanessa Grazziotin – Olha, em 2016, foi o ponto alto de toda a crise política brasileira. Porque, em 2016, nós vivemos o processo do afastamento, da cassação do mandato da presidenta Dilma.  E, obviamente, o que houve ali foi um grande pacto entre o poder econômico, as forças empresariais, fortes, a mídia, os veículos de comunicação. O próprio poder judiciário – e  eu lembro o que disse  o ministro  Lewandowski (Ricardo), que à época era o presidente do Supremo Tribunal Federal  –, foi ele quem dirigiu  a sessão de julgamento da presidenta Dilma que levou ao seu afastamento, logo na semana seguinte que acabou  o processo do julgamento,  numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo disse o seguinte: “estamos vivendo uma pausa na democracia”. Só que a democracia não pode ter pausa. A democracia tem que ser sempre. Então, naquele momento eu enfrentei  muita coisa difícil porque também a população apoiava a saída da presidente. Mais de 70% da população brasileira, apoiava e eu me rebelei em relação a essa maioria reconstituída ali. Mas por que que a população apoiava? Hoje está claro. Porque eles achavam que a Dilma era culpada de tudo. Na visão deles, bastava tirar a presidente Dilma que o problema da corrupção estava resolvido, o desemprego acabaria e o país voltaria a se desenvolver. O que a gente viu não é nada disso. O que a gente viu é que os verdadeiros corruptos é que foram colocados no Palácio do Planalto. E tem provas contra eles. O que a gente viu foi uma Câmara de Deputados que por duas vezes, em troca de dinheiro, em troca de cargos, manter Michel Temer no poder. Então, aquele momento, de fato, foi muito difícil. Hoje, eu sou recebida com muito carinho. Isso é o que me completa porque eu acho que  o resultado da urna é muito fruto daquilo que você faz. Então, se eu não fui bem entendida num determinado momento, eu sou tratada com muito respeito. Até mesmo aqueles assim que não concordam com as nossas posições, até mesmo aqueles assim radicais ao extremo. Esses aí gritam de longe o nome do candidato deles, mas não partem pra grosseria, não partem para o ataque.

BMA (interrompendo) –Para complementar a pergunta. Por essa posição , a  senhora vai pagar um ônus nas urnas, nas próximas eleições?

Vanessa Grazziotin Não.  Ao contrário, as pesquisas estão aí. Tem me colocado em segundo posicionamento e fruto de que? Não é fruto do poder, porque não  tenho nenhum poder no Estado. Não tenho nenhum prefeito que obedece as minhas ordens. Agora, a minha relação é muito boa com todos os prefeitos do ponto de vista institucional. Não tenho dinheiro. Quem me conhece sabe disso, então eu não tenho nenhum dinheiro. Como eu sou vista é fruto do meu posicionamento político. E começar uma campanha eleitoral com 20% é um patrimônio bastante elevado ao qual eu me orgulho muito. A campanha começando eu vou ter a oportunidade de falar com as pessoas que eu não tenho normalmente. Por exemplo, eu não tenho nenhum acesso aos meios de televisão. Eu não tenho acesso às rádios. Eu faço muita coisa no Congresso Nacional que não vem a divulgação. Vou te dar um exemplo. Nós tivemos agora uma grande vitória agora  que foi a garantia dos 30% dos recursos de campanha eleitoral para as mulheres. Isso foi uma vitória nossa! Sou procuradora da mulher no Senado Federal. Nós entramos com representação no Ministério Público para garantir isso. Qualquer outro que representasse as elites seria capa de jornais. Outro caso foi o projeto de decreto legislativo que nós votamos e aprovamos. Foi um projeto de minha autoria. Obviamente que meus colegas senadores assinaram também, mas quem apresentou primeiro fui eu.

BMAA bancada do Amazonas na Câmara  votou para blindar Michel Temer e naquela denúncia de …..  E aí ele assina um decreta que retira direitos da Zona Franca. O presidente cuspiu no prato em que comeu?

Vanessa Grazziotin – Eu nunca tive e  não tenho ilusão com o Michel Temer.  Logo no dia seguinte da publicação do decreto do Michel Temer para  tirar esse dinheiro da Zona Franca e dar para o Posto Ypiranga, para Shell, para subsidiar a redução no preço do óleo diesel, nós tivemos uma reunião foi na sede do PRB. Então, lá na frente de todos os blogs, de todos as televisões e jornais, a bancada me pediu: “senadora, tire o projeto de Decreto Legislativo, porque o presidente Temer prometeu que vai ajudar”. Eu não tenho ilusão nenhuma. O Michel Temer falou  que era para os senadores votarem a Reforma Trabalhista do jeito que a Câmara votou, porque ele vetaria e faria uma Medida Provisória modificada.  Ele não prometeu de boca, ele assinou. Com ele, assinaram os líderes da bancada de oposição no Senado. Cadê o veto? Cadê a Medida Provisória?

BMA – Nessa recente  votação do Senado, sobre os concentrados do guaraná, a bancada do PT se posicionou contra a Zona Franca, às vezes com um discurso até raivoso.  A senhora se surpreendeu com esse discurso do PT, com o discurso da própria senadora Glesi Hoffmann, que é sua companheira? 

Vanessa Grazziotin – Em primeiro lugar eu não  me surpreendi porque para nós que estamos lá em Brasília, esse debate  não é uma novidade.  É um debate que já vem de muito tempo, porque há muito tempo a Receita Federal do Brasil e um grupo empresarial,  principalmente localizado no estado do Paraná – e isso justifica a  postura da senadora Gleisi –, vem tentando solapar a Zona Franca e retirar esse setor de produção de concentrados. Mas, aqui eu quero desfazer alguns mitos. Não é verdade que o PT votou contra. Isso não é verdade…

BMA (interrompendo) – O senador Lindberg Farias (PT-RJ) votou contra e fez discursos atacando a Zona Franca.

Vanessa Grazziotin – Mas o PT não é apenas Gleisi e nem Lindberg. O PT tem onze senadores, metade votou contra e a outra metade votou a favor. Vamos falar do Paulo Rocha (PT) que votou a favor. Vamos falar do senador  Jorge Viana (PT-AC) que votou a favor. Ou seja, a metade votou contra  e outra  metade votou a favor. Já a  senadora Regina, que é do estado do Piauí, que  votaria contra por uma linha diferente, porque ela é contra dar incentivos  a qualquer coisa que  na visão dela seja prejudicial à saúde; e aí  conversei muito com ele e ela se absteve. Portanto o PT não votou contra, a metade sim.  Mas poderíamos levantar outros aspectos: A Ana Amélia do PT que votou  contra. Então não é uma questão partidária. Veja como são as coisas, falam tanto uma mentira  que a mentira acaba se tornando uma verdade. Como se pode dizer que o PT foi  contra a Zona Franca se a metade votou a favor e  a metade votou contra? Então, no mínimo o PT foi neutro, como vários partidos.  Do partido do senador Omar Aziz (PSD-AM), vários votaram contra. Vamos pegar aquele do Rio Grande do Sul, como é o nome dele?

BMA (interrompendo) – Lasier Martins (PSD-RS). 

Vanessa Grazziotin (continuando)  – Isso! Lasier Martins. Ele é do partido do senador Omar e, por ele ser do partido do Omar eu vou dizer que ele foi contra? Não, de jeito nenhum. Nós não podemos dizer que no resultado da votação você teve partido A ou partido B. Isso foi uma questão regional, porque o setor que é  contra a Zona Franca está predominantemente no Paraná, está em Santa Catarina e no Rio Grande do  Sul. Agora, as duas bancadas mais fortes contra a Zona Franca eram as do Paraná e a do Rio Grande do Sul, onde o empresariado mais se mobilizava. Por exemplo, teve uma votação na Comissão de Constituição e Justiça sobre um Projeto de Lei sobre  uma Zona Franca (que depois foi transformada em Zona de Processamento de Exportação)  para o estado do Maranhão. O estado do Maranhão, é o único estado em que o meu partido tem um governador. E ele é o melhor governador do Brasil – e não estou dizendo isso por ele ser do meu partido – está publicado  em todos os jornais e revistas que ele é o  governador que mais cumpriu com aquilo  que prometeu. Revista Veja, jornal Folha de S. Paulo são os que deram essa classificação a ele. E qual foi meu voto lá? Eu votei contra, porque não adianta, gente, o Senado Federal é a Casa do equilíbrio da Federação. Então, quando  o assunto trata de seus estados, é óbvio que não tem como. Então, lá é uma guerra. E eu vou dizer o seguinte: apesar de todo o esforço do Michel Temer pra derrotar o nosso Decreto de Projeto Legislativo – e ele mentiu, mentiu muito, dizendo para os senadores que se fosse mantido o decreto dele os estados ganhariam mais dinheiro. Por exemplo. nós perdemos um voto que não conseguimos convencer e eu fiquei muito triste porque foi o voto da senadora Káthia Abreu. Porque nessas questões, a senadora Kathia Abreu é muito firme. E ela colocou na cabeça dela que  nessa questão ela estaria votando contra Tocantins. E eu disse, Kathia esse dinheiro é para colocar para as petroleiras, não é para o estado de Tocantins. Mas o governo fez uma campanha muito grande…

BMA – O que a senhora acha que fez o Amazonas vencer, no Senado, essa guerra pela Zona Franca?

Vanessa Grazziotin – O  que  nos levou à vitória foi ter vencido a Guerra do convencimento contra o  governo. De que forma? A solidariedade regional, porque muita gente votou  por solidariedade à Zona Franca, principalmente os votos que vieram do Nordeste e do próprio  Norte. E o segundo da segurança jurídica, porque  um presidente  não pode além da Inconstitucionalidade, porque se, de fato um presidente tem o poder por decreto de aumentar ou diminuir imposto? Ele tem que entender que a Zona Franca dentro do sistema tributário brasileiro é um regime de exceção. Nosso benefícios estão garantidos na Constituição. Então, ele não pode fazer com a Zona Franca  o que ela faz com outras regiões. Pode o estado acabar com aquilo que está garantido na Constituição? É óbvio que não. O Michel Temer agora garante que ele vai entrar na Justiça. Entre, porque ele vai perder. Todas as vezes que travamos batalhas na Justiça em defesa da Zona Franca de Manaus, nós vencemos.

BMA –Nas eleições de outubro para o governo, senhora marcha com o deputado David Almeida, que é pré-candidato pelo PSB ou com o senador Omar Aziz (PSD) que é um velho aliado desde os movimento estudantil?

Vanessa Grazziotin – Veja, é uma resposta muito difícil. É difícil porque acaba que a gente nunca viveu uma eleição tal qual essa que estamos vivendo. Veja, as convenções vão até o dia 09/08.  Nós não sabemos quem serão os candidatos ao governo do Amazonas, mas o que é pior, não sabemos quem serão os  candidatos a presidente. De que lado o partido A ou partido B estará.  E não falo aqui das forças progressistas de  esquerda ou de Centro. Não, eu falo de todas . Veja, nós que sofremos tudo o que sofremos, hoje, por incrível que pareça, a possibilidade de vitória está mais para do nosso lado, de quem eles tiraram do poder na marra, do que para o lado  deles que estão no poder. E aqui do nosso lado não há definição, do lado deles também não. O Alckmin (Geraldo)  tem o apoio de quem? Não sabe. O Bolsonaro, ontem o vice dele era um general, hoje é a Janaína Paschoal.

BMA O general Heleno não aceitou.

Vanessa Grazziotin – Sim, não aceitou. A Janaína é aquela mulher dos R$ 45 mil. Aquela mulher que o Aécio Neves (PSDB-MG) pagou  45 mil reais para ela entrar com o processo de impeachment contra a presidenta Dilma, já pensou (risos). E até agora não tem coligação nenhuma. Porque olha, a eleição que nós estamos vivendo mostram pesquisas em que o primeiro colocado  disparado está aonde? Está preso. E preso  por quê? Que crime ele cometeu? Pela mala que acharam dele? Pelo  apartamento com 51 milhões de reais? Não! Ele está preso sem nenhuma prova. Está preso que é só para ele não ser presidente de novo. . Só por isso que ele está preso.

BMA – A senhora acredita nessa força toda do Bolsonaro?

Vanessa Grazziotin – Não, de jeito nenhum. Eu acho que o Bolsonaro vai embora, o povo não tem ideia do que é o Bolsonaro. Está muito levado por aquele discurso de que o que ele acha o Bolsonaro fala.

BMA (interrompendo) – O mesmo discurso nacionalista que levou Adolf Hitler ao poder, na Alemanha.

Vanessa Grazziotin Não é só o nacionalismo, não. É o discurso do “bandido bom é bandido morto”, de que enfrenta o poderoso, enfrenta o corrupto. Mas na hora em que o povo ver quem é o Bolsonaro, que ele votou a favor de tirar o direito do trabalhador, o Bolsonaro vai derreter. Eu não tenho preocupação nenhuma com o Bolsonaro. Então veja,  uma eleição onde o primeiro colocado está na prisão e quanto  mais tempo passa, mais ele cresce. Então tem isso tudo. E por que eu estou falando isso?  Porque as nossas coligações  vão depender um pouco dessa formatação nacional. Mas eu acho que daqui para a semana que vem a gente consegue  dar um bom passo nas decisões. Ter um quadro mais claro, mas límpido. Então, eu não ousaria dizer que a gente estará do lado A hoje e do lado B amanhã. Claro que nós queremos muito fazer uma aliança bem delimitada.

BMA – Mas a senhora subiu no palanque do David Almeida, não é? Quando ele lançou sua pré-candidatura.

Vanessa Grazziotin – Sim. Eu fui convidada e fui lá. Apesar daquela polêmica toda eu fui lá e estive com ele, porque ele é de um partido irmão, do PSB. Um partido que nacionalmente está discutindo conosco. Esse é o  ideal, nós queríamos reunir todas essas forças progressivas…

BMA (interrompendo) – A que polêmica a senhora se refere?

Vanessa Grazziotin – Inventaram  um negócio, porque o David respondeu, ao ser perguntado se havia uma aliança conosco, que não tinha nada certo. E aí eles tentaram transformar essa resposta em um atrito entre nós, que na verdade nunca existiu.

BMA – Foram críticas de cunho religioso, também, não é?

Vanessa Grazziotin – Religioso sim, não tem nada a ver. Política é uma coisa religião é outra. Eu por exemplo  su daquelas que não frequento igreja, mas sou uma pessoa muito crente, você me conhece (referindo-se ao jornalista). Acho que vale muito mais a atitude do que a palavra, porque a palavra você pode inventar, qualquer uma, bonita. A atitude não. Para mim, o bom religioso é aquele que pratica o bem, que quer o bem comum, que não passa por cima das pessoas para poder formar a sua riqueza, formar o seu patrimônio, não é?

BMA – No Brasil do pós-impeachment, onde já está identificado o que é Centrão, direita, nacionalistas, e até os desavisados que ainda defendem o golpe militar, o que seria o ideal para o que a senhora traduz como forças progressistas?

Vanessa Grazziotin – O nosso sonho é esse. Nosso sonho seria ter uma única candidatura a presidente da República. Todo mundo junto,  Ciro, PT, PCdB PSB, PDT…todo mundo junto! Esse é o sonho. Agora, se a gente vai conseguir viabilizar ou não, vamos ver. Daqui a uma ou duas semanas nós vamos saber.

BMA – Como a senhora avalia a situação política de seu Estado que em menos de um ano teve três governador – José Melo, David Almeida e Amazonino Mendes? É um retrocesso não é?

Vanessa Grazziotin – É um retrocesso muito grande. Eu acho que  toda essa instabilidade que a gente vive no país, e que tem um  reflexo  profundo aqui no estado do Amazonas, é a causa de tudo, Isso que aconteceu aqui no estado do Amazonas e um reflexo do que aconteceu nacionalmente. E o que vem acontecendo nacionalmente é algo assim de difícil explicação, nós estamos aqui falando. A maioria do povo brasileiro apoio a saída de uma presidenta achando que ia acabar com a corrupção, e meses depois viu que quem foi posto lá no Palácio do Planalto é o maior de todos os corruptos. É o chefe maior de toda a corrupção e continua lá. Eu tenho colegas senadores que eu não consigo nem olhar, tamanho é a as acusações. Enquanto outros tiveram o mandato cassado, esses continuam lá. Então a gente vive um  um momento de muita instabilidade. Eu acho que muito mais importante que avaliar essa instabilidade é buscar a saída, a superação dela. E a superação só  vem através do processo democrático, onde a população decida. Nós dizíamos lá atrás, quando ele começaram a dizer que a presidente tem que sair porque ela perdeu o apoio aqui no Congresso. Porque para nós eles diziam. Alguns até falavam publicamente, mas a maioria escondia. “A presidente tem que sair porque perdeu o apoio do Congresso”. “Mas como que uma presidente com 10% de aprovação pode governar um país? Não pode”. Mas hoje eles não falam nada. Como que um presidente com apenas 3% de aprovação pode governar um país? Mas eles não falam nada por quê? E não falam nada por quê? Porque ele está fazendo a política que  a maioria defende lá do Senado.

BMAQual a saída, então, para superar a crise que se agrava cada dia mais?

Vanessa Grazziotin – Eu acho que a saída – e a gente chegou a acenar com isso lá atrás –, são  as eleições diretas. A saída é pela democracia. É por isso que eu não acredito nessa candidatura desse tal de Bolsonaro, porque ele representa tudo que não é democrático. Ele representa tudo que não é de respeito, tudo que não valorize a diferença. Por isso eu não acredito na candidatura dele. E acho que nós vamos superar essa crise do  Brasil e do nosso querido estado do Amazonas por aí. Porque na hora em que a gente vive um problema na economia, o que a gente tem que fazer não é dividir, é juntar. É o que nós fazemos com a Zona Franca. Nós não somos todos  iguais. Eu não sou igual ao senador Omar, que não é igual ao senador Eduardo, que não é igual ao deputado Gedeão… nós não somos todos iguais. Agora uma coisa nos une. Diria até que é a única: a Zona Franca de Manaus. Quando o Brasil vivia uma crise, em 2014, o mundo inteiro vivia. A Rússia vivia uma crise pior que a nossa, a economia da Rússia era baseada em commodities. A nossa não,  é mais diversificada. Mas a deles era a venda do gás, do petróleo… então o baque que eles levaram foi muito maior que o nosso.  Mas, nessa hora, o que eles fizeram? Eles não saíram brigando, eles se  juntaram e resolveram a crise. Aqui se tivéssemos  feito isso à época a gente não teria o desemprego crescente, ainda. Já era pra ter deixado isso pra trás. Mas, ao invés de mudar e superar a crise o que eles fizeram? Pagaram a Janaína Paschoal, 45 mil reais, fizeram um acordo entre eles pra tirar uma presidente. E para tirar a presidente, eles tinham que piorar a economia, piorar a situação do povo. Aquela velha história, quanto pior, melhor. E dizendo “vamos  tirar a Dilma, a gente vai chegar no poder e tudo vai melhorar. Mas só estão piorando.

BMA –  Senadora, as redes sociais se tornaram um campo minado, principalmente para os políticos. Como é que a senhora lida com as redes sociais já que a senhora recebe muitas críticas e algumas delas são até muitas pesadas né?

Vanessa Grazziotin – Muito. Eu estava lendo hoje, e queria saber de onde está vindo isso. Colocaram uma foto minha na feira dizendo assim: “a senadora passou o mandato inteiro em Santa Catarina…”. Olha, se tem um lugar que faz muito tempo que eu não vou é pra Santa Catarina. Disseram que eu passei o manto inteiro em Santa Catarina e agora eu vim aqui pedir voto. Isso é fake news. Eu espero que as pessoas tenham responsabilidade. Também tem o outro lado da moeda, ninguém bate em cachorro morto. Então eu devo estar incomodando alguém para começaram com essas mentiras. E eu fico até feliz porque não tem o que falar de mim, por isso inventam essa bobagem que fui pra Santa Catarina, aliás, ontem aconteceu um coisa assim, tem acontecido todo dia a gente entrar numa eleição em que o soco no fígado, comparado com a luta, vai a ser a coisa mais comum. Então o que temos que trabalhar é com a percepção e a responsabilidade das pessoas. Ao invés de elas acreditam nessas bobagens, deveriam ver lá no site do Senado, na Câmara. Abra lá! Você sabia que eu sou a senadora mais assídua? Está lá nos dados estatísticos. Eu sou a mais assídua. Cadê que as redes sociais publicam isso? Não publicam. Não, eles preferem a mentira. Então, eu espero e conto muito com a responsabilidade dos eleitores. Que ao invés de cair nesse conto da carochinha, vão procurar a verdade! Eu, por exemplo, quando o Michel assumiu o poder. Qual foi a sua primeira prioridade? A reforma previdenciária e imediatamente eu fui pra rua, pras feiras distribuindo a Cartilha da presidência mostrando o que é que o congresso quer fazer aprovando a reforma da previdência, exigindo 49 anos de contribuição para que um homem e uma mulher pudesse pedir a aposentadoria, ou seja, isso, na prática é acabar com o direito de aposentadoria.

BMA – Nas ruas é melhor do que nas redes sociais? A senhora encontra maior receptividade?

Vanessa Grazziotin –  Eu vou confessar uma coisa. Até agora, eu falo mais nas ruas do que nas redes sociais, porque  eu não consigo entrar assim, fazer uma análise da rede social. Eu sei que a gente apanha muito, mas do mesmo jeito que a gente apanha tem gente que reconhece e divulga também o nosso trabalho. Se a gente comparar com o que aconteceu com o Brasil estava completamente dividido com 2016 com o que está hoje, eu tenho recebido um carinho profundo na rua e percebo um respeito muito grande por parte daqueles que até discordam de mim. Isso para mim vale muito.

BMA –A senhora disse que uma única coisa une a bancada do Senado, que é a ZonaFranca. A senhora não acha que está na hora do Amazonas buscar um caminho que não seja o Amazonas já que nos temos tantas opções econômicas? 

Vanessa Grazziotin – Acho e por isso eu sou tão firme na defesa do legado dos governos de Lula e Dilma. Quando nos estávamos começando a trilhar um caminho assim. De que forma? Não há nação nenhuma no mundo que tenha sido desenvolvido sem ter investido fortemente na educação. E quando a gente fala da Amazônia, a gente fala de conhecimento, de tecnologia, a gente fala de inovação. O que pode substituir a Zona Franca? O uso racional da riqueza natural. Isso sim. Estamos falando do guaraná aqui, o guaraná não dá pra fazer só refrigerante, da pra fazer mil e umas coisas: conservantes, naturais, medicamento, pescado. Veja: o bacalhau da Amazônia. Isso aí tem o mundo pra ganhar. Nossa senhora! A Noruega é o país que mais investe no fundo de preservação ambiental da Amazônia. Por que os noruegueses têm paixão pela floresta? Não, porque eles sabem que o regime de águas frias deles que produz o bacalhau e que produz os peixes nobres depende da preservação da Amazônia, por isso que eles jogam dinheiro pra cá. Agora, pra que você possa desenvolver isso não é do dia pra noite. Você precisa de dinheiro.

BMA (complementando) – Esse era o objetivo do pré-sal.

Vanessa GrazziotinSim,  quando se descobriu o pré-sal, por uma teimosia de quem estava no governo (leia-se Presidente Lula),  imediatamente o Executivo enviou a mudança na lei para pegar todo o recurso do pré-sal e colocar na Educação. Isso é mudar a Zona Franca. Isso é investir na ciência e tecnologia. Olha, apesar de todos os problemas que a gente vive, a gente anda no interior e observa,  de uma década e meia pra cá, que o Amazonas é outro. Você tem a universidade federal, o Ifam, a UEA…. mudou. Temos uma faculdade de medicina no interior, pública! Hoje, quem vive na comunidade tem médico. Veio de onde? Do programa “Mais Médicos”! Trazer médico de fora? Nana, nina, não! É também aumentar o número de médicos formados no Brasil. Isso está lá na lei. Mas o Michel Temer acabou com tudo. Então, eu penso como você, a gente tem que investir para não depender só da Zona Franca. Agora, senão investir em ciência e tecnologia voltada para cá, nós  não vamos a lugar nenhum. Ou seja, quando nós estamos avançando nesse caminho a gente sofre um golpe. Por quê ? Porque aos americanos, às grandes potências americanas não interessam que o Brasil avance. E o que eles estão fazendo hoje? Entregando nosso pré-sal para as empresas estrangeiros. Entregando simplesmente. Vão vender, querem vender a nossa Eletrobras. As nossas hidrelétricas. Enfim, então eu concordo com você, por isso e sou muito firme nessa posição. Porque quando eu lutei contra tudo isso que aconteceu no Brasil eu estava lutando a favor da Zona Franca, a favor do nosso desenvolvimento e, principalmente, a favor do nosso futuro, aí Michel Temer acabou com tudo.

BMA –A senhora tem conversado com o presidente Lula?

Vanessa Grazziotin – A última vez que eu conversei com ele, foi quando fizemos aquela visita.

BMA Como está o estado dele?

Vanessa Grazziotin – Olha , eu converso com quem conversa com ele. A família, alguns membros do PT. A própria presidente do partido, Gleise, não tem conseguido ir com muita frequência, mas alguns advogados, sim, ele tá muito firme, muito convicto e coordenando todo o processo de transição. Agora a gente sabe que só tem uma forma da gente libertar o presidente Lula. É  a gente vencer as eleições presidenciais.

BMA – A senhora ainda acredita que a candidatura dele pode ser viável?

Vanessa Grazziotin – É claro que eu acredito! Ele vai ser candidato, quem disse que não? Eu acredito ainda, mesmo porque não há nada. Saiu uma decisão em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou o pedido do  MBL (Movimento Brasil Livre)  que entrou com uma petição para declarar o ex-presidente Lula inelegível desde já), que um movimento que por qualquer coisa vem pra rua. É tudo entidade de empresário  mantida pelos americanos. Eles entraram com uma ação pedindo que o TSE considerasse de imediato a inelegibilidade do Lula, ou seja, a impossibilidade dele registrar a candidatura. Mas foi negado. E por quê? Porque o Supremo não pode revogar Lei. Só quem pode revogar a Lei é o Parlamento. A lei é clara. Todo mundo tem o direito de registrar a sua candidatura e aí o que acontece, alguém tem que pedir a impugnação e aí depois que alguém pede a impugnação isso vai a julgamento. E aí tem que dar o direito de defesa pra um e o direito de acusação pra outro. E aí depois disso ainda tem direito de recurso na instância superior. Então o Lula será registrado e será candidato. Agora, se o Supremo decidir pela cassação de seu registro, aí ele terá que ser substituído , mas isso vai acontecer lá por final de setembro. Então o Lula é o candidato é o presidente à presidência da República, sim!

VEJA O VÍDEO:

Vanessa Grazziontin em entrevista ao Blog do Mário Adolfo

“Quando o povo descobrir quem ele é, Jair Messias Bolsonaro vai derreter. Eu não estou preocupada com Bolsonaro”; – "Quero saber quem fez aquele meme da feira. Faz muito tempo que não vou a Santa Catarina";Estas e outras declarações você assiste na entrevista de Vanessa Grazziotin ao Blog do Mário Adolfo. Acesse a entrevista completa em https://goo.gl/LQhQPr

Posted by Blog do Mário Adolfo on Monday, July 23, 2018

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