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Exclusivo: Eduardo Braga projeta ano eleitoral e fala sobre as relações com Arthur Virgílio, José Melo e Amazonino

Aos 57 anos, Eduardo Braga já foi vereador, deputado estadual, deputado federal, vice-prefeito, prefeito, governador por duas vezes e ministro das Minas e Energia. Senador pelo Amazonas desde 2011, sabe que as eleições de 2018 vão definir um novo Brasil, que, na visão dele, nunca teve uma classe política tão desgastada como agora. Os planos já começaram a ser traçados, mas sem esquecer das pautas que norteiam o trabalho em Brasília.

No sábado de Carnaval, Braga recebeu o Blog do Mário Adolfo no escritório que mantém na Ponta Negra, para uma entrevista exclusiva atendendo a um pedido com objetivo de falar sobre a Zona Franca de Maquila. Criada há 17 anos no Paraguai, o modelo oferece isenção de impostos a empresas que se instalam naquele país para fabricar produtos destinados à exportação e tem levado indústrias que antes se instalariam em Manaus – o assunto foi abordado por ele em discurso no Senado.

Braga também falou sobre o desejo de não disputar as eleições para o governo do Estado este ano e sobre suas relações com algumas das lideranças políticas do Amazonas. O blog continua a série de entrevistas com políticos do Amazonas.

 

CONFIRA:

BLOG DO MÁRIO ADOLFO: O que nos trouxe até o senhor neste momento foi o discurso feito no Senado, apontado uma ameaça à Zona Franca de Manaus, que vem do Paraguai. Qual a verdadeira força desta ameaça?

EDUARDO BRAGA: Se vermos o mapa do Brasil, o Paraguai está ao lado do Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Esses estados representam 60% do PIB Brasileiro. Uma zona franca ao lado de 60% do mercado consumidor brasileiro já é uma vantagem logística extraordinária. Mas quatro coisas caracterizam esta Zona Franca de Maquila. 1) Apenas 1% de imposto sobre o valor agregado; 2) Energia elétrica barata e feita por nós em Itaipu; 3) Custo total de mão de obra mais barato por causa dos custos trabalhistas; 4) Não tem valor agregado como processo produtivo básico (PPB) para nenhum produto. Então, de cada dez empresas que estão se instalando lá, sete são brasileiras ou que querem atender o nosso mercado. A Riachuelo, por exemplo, está com uma fábrica enorme lá. Quando a nossa zona franca vende para países do Mercosul, nós temos que cumprir uma série de contrapartidas que oneram o produto, mas o Brasil não está se protegendo. Nós estamos formando uma comissão de seis senadores para irmos até lá e mostrar que esta ameaça é real. Agora o Brasil começa a se preocupar, pois nossa indústria começa a se mover para o Paraguai.

 

BMA: Como o senhor avalia o governo Temer diante desse quadro? E por que a aprovação do presidente é tão baixa?

EB: Sob o aspecto de contingenciamento de recursos de modelos econômicos, nem FHC, nem Lula, nem Dilma e nem Temer fizeram grandes mudanças. Mas quando analisamos alguns casos isoladamente vemos mudanças. Por exemplo: como se tratou o caso dos haitianos em relação aos venezuelanos? No governo Dilma foi melhor que agora com o governo Temer; na questão da Zona Franca de Maquila, todos tiveram o mesmo comportamento, meio que subestimaram o crescimento deles. Não dá mais pra subestimar; Todos estes governos preferiram não assumir responsabilidade com a segurança pública, mesmo prometendo em campanha. Em relação a aprovação ruim do presidente são várias as razões. Primeiro que não foi um governo eleito. Substituiu um governo por escândalos de corrupção, como aconteceu com Itamar Franco. Mas naquela época ao menos ele conseguiu fazer um sucessor, que foi o FHC, em virtude do Plano Real. Mesmo lá com o Itamar Franco tivemos alguns escândalos, mas que foram esquecidos pelo sucesso da política econômica. Talvez ainda vejamos frutos do Governo Temer no futuro, mas não com o mesmo impacto da era Itamar/FHC. A própria sociedade é muito mais dinâmica, com processos de imprensa e informação muito mais eficientes e rápidos. Não tínhamos uma classe política tão deteriorada com agora.

 

BMA: A reforma da previdência pode ser um ‘fruto’ do Governo Temer? O que o senhor acha e como vota?

EB: Não passa. Uma reforma como esta tem que vir com um grande debate nacional. Então que isso seja feito durante o debate eleitoral deste ano, com a sociedade participando. Que a mensagem do presidente em fevereiro de 2019, na abertura dos trabalhos legislativos, seja sobre a reforma. Mas só que o presidente que for eleito terá discutido isso de forma nacional e com a população, apresentando de que forma serão combatidos os privilégios, quem vai pagar a conta. E não tentarmos fazer isso em ano de eleição e da forma que se conduziu equivocadamente desde o início. Hoje, do jeito que está, eu sou contra e voto contra. Eu acho que, hoje, não tem votos para passar na Câmara dos Deputados e deve ficar para depois das eleições.

 

BMA: Falando sobre eleições, o senhor já decidiu de fato a que cargo concorre neste ano:

EB: Sou candidato a reeleição no Senado. Tenho conversado com os prefeitos do interior, lideranças e companheiros pedindo apoio para minha permanência no Senado.

 

BMA: E em relação ao governo, como está sua relação com Amazonino Mendes? O senhor conversa politicamente com ele?

EB: Estou à disposição dele institucionalmente ajudando no que posso o Estado a nível de Brasília, mas não tive nenhuma conversa política com ele.

 

BMA: O governador já conseguiu ‘arrumar a casa’?

EB: Olha, eu acho que o governo pegou uma herança muito complicada. Muitos problemas na saúde, muitos problema na segurança, na educação e investimentos igual a zero. Obras estão praticamente paradas e isso é grave. Tem feito com que a economia tenha tido uma recuperação lenta. O que pode fazer com que o Estado avance é fazer um investimento que gerem emprego e renda e que melhore a competitividade dos nossos produtos internamente no Amazonas. O que se espera é que no início do verão já tenhamos um governo mais estruturado e organizado fazendo estes investimentos. Desde quando eu saí só vimos as coisas piorarem. Construí mil quilômetros de estradas. Construí e equipei 42 hospitais no Amazonas. Construí o novo 28 de Agosto, Platão Araújo, SPAs e Policlínicas e coloquei tudo pra funcionar. Na segurança não tínhamos organizações criminosas que temos hoje e nem índices de segurança de agora. Existiam problemas? Claro que sim, mas as políticas públicas funcionavam. Torço que até o mês de maio vejamos esses investimentos voltarem a ser feitos, pois a população não aguenta mais com a falta de melhorias. Além disso, precisamos voltar a ter o Amazonas como uma vitrine e atraindo os olhos do mundo com uma imagem positiva até internacional. O Governo do Estado tem que recolocar este posicionamento nesta direção. Nossa imagem hoje fora do Brasil é de guerra civil.

 

BMA: E em relação à prefeitura, o que não deu certo na sua aliança com o prefeito Arthur Virgílio Neto? Vimos uma aliança para as eleições municipais em 2016 e depois um distanciamento. O que houve?

EB: Não sei (fazendo sinal com as duas mãos espalmadas para o alto). É difícil dizer. A aliança aconteceu por um movimento dos dois lados no sentido de que havia uma reflexão e uma postura de humildade, principalmente da minha parte, de humildade para a construção de uma proposta de experiência em um momento de crise no País. Fizemos a nossa parte e depois da eleição o prefeito tomou o caminho dele e as decisões dele. Ele se distanciou. Nós não tivemos uma conversa que pudesse representar uma ruptura, mas aconteceu com o dia a dia. Se você me perguntar qual foi a razão, eu não sei dizer. Nós no PMDB buscamos ajuda-lo de todas as formas, inclusive colocando Marcos Rotta como vice na chapa.

 

BMA: E o que o senhor achou da saída do Rotta para o PSDB. Ficou chateado?

EB: Chateado não, fiquei surpreso, mas ninguém fica onde não quer. A democracia tem esta beleza. As pessoas escolhem seus caminhos e a gente tem que respeitar com muita maturidade. Você pode até discordar, mas precisa respeitar. O único fato que registro é que não houve conversa alguma. Simplesmente tomei a notícia pela imprensa de que o Marcos estava saindo, mas eu respeito a decisão.

 

BMA: Senador, quando o senhor vê o ex-governador José Melo, que militou ao seu lado, preso, qual é o seu sentimento?

EB: Fico muito triste (encostando as costas na cadeira rapidamente). Isso tudo representa um grande prejuízo para o Amazonas. Eu acho que é muito triste tudo isso. Eu espero sinceramente que a Justiça e os órgãos de fiscalização possam, o mais rápido possível, dar novamente estabilidade política para o Amazonas.

 

BMA: Para finalizar, qual legado o senhor deixa deste mandato?

EB: Trabalhei muito. Nós conseguimos prorrogar a Zona Franca por mais 50 anos. Eu já tinha conseguido prorrogar como governador até 2013 e depois como senador até 2073. Não só ajudei como relatei no Senado. Também tivemos uma outra grande vitória que foi nos bens de informática. Eu relatei a MP dos tablets, que reintroduziu a possibilidade se sermos competitivos na fabricação de bens de informática, smartsphones, tablets, câmeras e outros bens que vieram pra Zona Franca de Manaus e que fortaleceram o polo industrial. Também fizemos com que o Fundo de Participação do Estado praticamente dobrasse. Eu era líder do governo na época e em 2014 conseguimos esta vitória. Isso possibilitou que o Amazonas não entrasse na crise que estados como Rio de Janeiro entraram. Tivemos essa compensação. Do ponto de vista de apoiamento com recursos do Governo Federal, tive participação na liberação de recursos para obras na comunidade Arthur Bernardes (na ponte do São Jorge) e até hoje não saiu. Participei na liberação de recursos em anéis viários das zonas Oeste e Leste e até hoje não saíram. Liberamos recursos até a quarta fase da Avenida das Torres e não terminaram. Na liberação para a duplicação da AM-070, mas a obra engatinha. No Hospital do Sangue, atrás do Hemoam. Ou seja, são muitas vitórias.

(Neste momento a esposa do senador, Sandra Braga, entra na sala, sorri, cumprimenta a todos e pergunta se há mais entrevistas. Em seguida deixa o local) 

BMA: É mais fácil ser senador ou governador?

EB: É diferente. Como governador você tem questões da gestão, da administração e da credibilidade junto à população. Como senador você trata de políticas públicas e credibilidade junto aos seus pares no Congresso e junto aos três poderes. O senador faz a interlocução com todos os poderes para defender os interesse do Estado e da República. Mas ambos são gratificantes.

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